Um desaparecimento misterioso que até hoje não teve solução.

17/08/2009

Um texto escrito por nosso querido Ruy Espinheira Filho no Jornal A Tarde, na coluna Opinião em 18 de junho deste ano, falou do tempo de desaparecimento de Deodato Astrê, conhecido por Deó. Como já se passaram mais dois meses da publicação de Ruy e ainda nada foi solucionado, republicamos em integra todo o texto que corrobora o pensamento de toda a equipe do Jequié Notícias e, acreditamos, de muitos que conhecem Deó ou teve ciência do assunto. Segue abaixo. Há mais de sete meses desapareceu, misteriosamente, meu amigo Deodato Astrê. Conheci-o no final dos anos 50, quando começou a ser criada a Associação Jequieense dos Estudantes Secundários (Ajes), que ele presidiu até se mudar para Salvador, com a eleição de Lomanto Júnior ao governo do Estado. Convidado por Deó (como era mais conhecido), assumi o cargo de secretário-geral da entidade até 1961, quando vim estudar no Colégio Central da Bahia. Deó era um presidente abnegado - e ainda trabalhava como chefe de gabinete do mesmo Lomanto Júnior, prefeito da cidade (Jequié). Sob sua influência, Lomanto fez diversas concessões à Ajes, garantindo a sala em que funcionava a agremiação, pela qual não pagávamos aluguel. E mais: conseguimos uma hora semanal na Radio Baiana de Jequié, do mesmo Lomanto, durante a qual falávamos do nosso movimento, das nossas reinvidicações, promovíamos debates culturais — e, eventualmente, criticávamos a administração da cidade. Sim, era um tempo de plena democracia. Deó era mais velho — seis,sete anos mais do que eu — e fazia política estudantil em nível estadual, apoiando a Associação Baiana dos estudantes Secundários, liderada por Jarbas Santana, que combatia as tendências conservadoras e reacionárias de uma ala do movimento estudantil insuflada por padres, políticos fascistoides etc. Como já disse, era um tempo de plena democracia, o debate era livre e aberto, nem se sonhava com o golpe que, em 1964, instauraria a ditadura militar. Deó veio para Salvador,com a vitória de Lomanto, e aqui estudou Direito, trabalhando como fiscal de rendas do Estado. Nos últimos tempos, já aposentado, mas continuando a advogar, passou a morar em Itaparica, vindo frequentemente a Salvador. E, ao que tudo indica, foi numa dessas vindas que ele desapareceu. Simplesmente isto: desapareceu. Um cidadão que é jornalista, advogado, funcionário aposentado do Estado, membro da Academia de Letras de Jequié, desaparece — e tudo fica por isso mesmo! O que se comenta é que ele andou criticando certas coisas da Prefeitura de Itaparica, desentendeu-se com um segurança de um candidato a prefeito, parece que foi ameaçado por policiais — e sumiu. Saiu de casa para vir a Salvador — e nunca mais foi visto em parte alguma. Há quem diga que a polícia baiana está investigando o caso, mas até agora — sete meses passados, repito — não houve resultado algum. Sei bem que a nossa segurança é precária, e até mesmo inexistente, mas o desaparecimento, assim, de um cidadão de projeção social, nada anônimo, é um absurdo. Sim, um absurdo, mas o fato é que Deodato Astrê desapareceu e continua desaparecido. A família quer explicações das autoridades. Eu também quero. Como certamente todos os cidadãos que não desejam viver num mundo em que podem desaparecer de súbito e inexplicavelmente. Ruy Espinheira Filho Escritor, pertence à Academia de letras da Bahia. E-mail: [email protected]