Ao longo da história, a sociedade vem apresentando diversos costumes, crenças e, até mesmo, leis como forma de dominação do outro. Dentre essas apropriações, observa-se as mais variadas práticas contra a existência da mulher, independentemente de cor, classe social ou religião, oriundas de uma estrutura patriarcal que se arrasta desde os primórdios da civilização.

Na Uesb, muitas pesquisas e ações vêm sendo realizadas dentro desse contexto, com o objetivo de contribuir para o fim das violências contra o gênero feminino. Uma delas, o assédio, é o objeto de luta e estudo de algumas mulheres na Instituição, que são ativistas na defesa dos direitos das mulheres.

Exemplo disso é o trabalho realizado pela professora Márcia Lemos. Motivada pela sua atuação em movimentos sindicais e feministas, seus estudos a permitiram perceber o quanto as mulheres são vítimas de assédio nos mais variados ambientes, como em casa, no trabalho, em universidades e escolas, na rua e até no ativismo político.

Sua pesquisa investiga a construção das relações sociais de sexo, bem como a desnaturalização e historicização da condição da mulher. Além disso, busca discutir o modo como o capital tem se apropriado dos paradigmas patriarcais e heteronormativos para aprofundar a expropriação da força de trabalho no Brasil.

De acordo com a professora, fatores econômicos também contribuem para a continuidade do assédio nos dias atuais. "A situação de vulnerabilidade econômica das mulheres, especialmente as negras e pobres, estimula o assédio moral e sexual. Patrões e chefes usam o temor da mulher em perder seu meio de subsistência para coagi-la a cumprir jornadas de trabalho extenuantes, a tolerar ofensas, constrangimentos e humilhação, além dos abusos relativos ao corpo", pontua a pesquisadora.

O assédio e suas implicações – "O assédio envolve uma relação de poder, na qual a vítima está, conforme padrões socialmente estabelecidos, em posição hierarquicamente inferior e sente-se vulnerável, humilhada, culpada e com medo de reagir", explica a professora Márcia.

Ainda segundo ela, o grande problema nessas situações é a culpabilização das vítimas, pois o medo da exposição e até mesmo o julgamento da sociedade impedem que muitas denúncias sejam realizadas. Como consequência desse silenciamento, "as vítimas de assédio podem sofrer com vários problemas de saúde, como depressão, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo, estresse e outros", esclarece a docente.

Ativismo – "Minha luta começou em 1988, quando eu cursava minha pós-graduação no Rio de Janeiro. Naquela época, as mulheres eram vítimas dos chamados crimes de honra, onde seus companheiros se achavam no direito de fazer justiça com as próprias mãos, lavando o que eles chamavam de honra com sangue e, muitas vezes, tais assassinatos eram cometidos por uma simples suspeita de uma possível traição".

Essas palavras são da advogada Arlene Ribeiro, servidora da Uesb e também presidente do Conselho Municipal da Mulher de Vitória da Conquista. Foi a partir dessas histórias relatadas que ela se sentiu impulsionada a lutar em defesa dos direitos da mulher. De acordo com a advogada, o que mais lhe toca é que quando as vítimas passam por situações de violência e realizam uma denúncia são "entregues à própria sorte", pois as medidas protetivas ainda são falhas.

Apesar da realidade ainda ser cruel para o gênero, Arlene também pontua os avanços no que diz respeito à criação de uma rede de denúncia de assédio. Instituições como a Delegacia da Mulher, o Ministério Público, a Vara da Violência Doméstica, o Conselho da Mulher na Uesb, a Defensoria Pública são algumas das referências no atendimento para situações de assédio hoje.

Diante disso, Arlene reforça que é importante a vítima de assédio, ao identificar a violência que está sofrendo, romper o silêncio procurar ajuda junto à rede protetiva. "Derrotar a prática de assédio é uma luta pela igualdade de direitos e  oportunidades entre homens e mulheres. Caso você esteja sendo vítima de violência, seja qual for, procure ajuda", orienta a advogada.

UESB