Thiago Machado fala sobre o Coletivo Borda da Mata e faz duras críticas a Secretaria de Cultura.

15/02/2012

JN: Thiago, recentemente a população de Jequié tem visto diversos eventos organizados pelo Coletivo Borda da Mata - Fora do Eixo, sendo você o articulador. Do que se trata esse Coletivo? Thiago: O coletivo Borda da Mata é um núcleo de produção de eventos e também um ponto do circuito Fora do Eixo, essa organização se tornou em cinco anos a maior rede de cultura livre da América Latina. Atualmente é formada por representações nos 26 estados brasileiros, no Distrito Federal e em três Países da América Central e um País da América do Sul, além do Brasil, somando 106 localidades. O objetivo do Fora do Eixo é fomentar a cultura local e desenvolver a cena alternativa com duas frentes: circuito cultural e movimento social. O Borda da Mata, desde sua implantação ocorrida em julho do ano de 2011 na Casa da Cultura Pacífico Ribeiro, já promoveu diversos eventos valorizando artistas locais e trazendo dezenas de atrações de outras cidades, incluindo de outros estados, bastante elogiadas por veículos especializados como as revistas Bravo, Bizz, Rolling Stones e a MTV. Recebemos artistas do Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, bem como de Salvador, Vitória da Conquista, Feira de Santana e Ipiaú que se apresentaram em Jequié ao lado dos nossos talentos locais, até mesmo músico de Jequié radicado no Rio de Janeiro se apresentou em nossas noites musicais, o Ricardo Ayade. Clique aqui e confira um resumo de todas as nossas atividades e as atrações que se apresentaram em Jequié no ano de 2011. JN: Qual o planejamento para os futuros eventos? Thiago: Este ano vamos trabalhar muito no desenvolvimento da cena cultural com oficinas, formações de produções e seminários em parceria com a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), além disso, vamos promover a circulação dos artistas locais para outras cidades e estados, pois o ano de 2011 foi um ano de formação do Coletivo e experiência das atividades. Já neste ano de 2012, será de muito trabalho, fortalecimento dos artistas autorais e também apresentar estilos musicais inéditos para a nossa região, como aconteceu recentemente com a banda argentina Finlândia, atração que se apresentou em Jequié no mês de janeiro, em praça pública. Pretendemos realizar no mês de março em Jequié, a 1ª edição do maior festival integrado da América Latina, o GRITO ROCK, com data confirmada para 9 e 10 de Março, embora, venho informar em primeira mão que a Secretaria de Cultura de Jequié não poderá mais apoiar o evento. O órgão municipal alega não ter verbas para este evento, que seria realizado em praça pública para toda população com diversidades de estilos e muita acessibilidade para todos os públicos e idades. Uma pena, pois várias atrações já estão confirmadas, a exemplo de uma banda do Rio de Janeiro apoiada pela Conexão Vivo e mais outros artistas que foram inscritos no site Toque no Brasil (que já conta com 60 atrações de todos os estados do Brasil). A seleção das atrações seria no dia 17.02.12 (veja no link). A partir do mês de Maço vamos colocar em prática o nosso movimento social que será com trabalhos de sustentabilidade ambiental e conscientização do meio ambiente. Este ano também vamos continuar realizando as Noites Fora do Eixo como em 2011, no mês de novembro haverá o Festival Borda da Mata. JN: Muitas pessoas reclamam que Jequié é uma cidade sem opção de lazer, principalmente na área de eventos musicais. Como você enxerga essa situação diante de toda programação já elaborada pelo Fora do Eixo na cidade? Thiago: Primeiro eu gostaria de agradecer ao Havana Music Bar que no ano de 2011 cedeu a casa para a maioria dos eventos das noites Fora do Eixo, e a UESB que entendeu a proposta do Coletivo e está sempre nos apoiando. Agora, sobre sua pergunta, vale listar alguns fatores fundamentais que inibem a população de participar de eventos culturais. 1°- A Secretaria de Cultura de Jequié não funciona devido a questões políticas na gestão administrativa municipal. Quem perde com isso é a população de Jequié que fica alienada pelo pouco que é oferecido em opções culturais. Muitos artistas talentosos da nossa cidade acabam se perdendo no ostracismo, outros largam a profissão por falta de espaço. Para mim, falar em cultura é conotar como oxigênio para uma cidade, algo que se eu fosse esperar por essa Secretaria morreria com a falta de ar. 2° - A nossa cidade não cumpre com a Lei de Incentivo à Cultura e não dispõe do Fundo Municipal de Cultura para os incentivos, dificultando os recursos que são direcionados para contemplar as diversas linguagens artísticas que são disponíveis em editais para o município. Ou seja, como falei antes, a nossa cidade não respira cultura e quando acontece é devido à alguma iniciativa própria, de produtores independentes ou projetos aprovados pelo estado da Bahia. 3° - Jequié tem grandes empresas, fábricas e indústrias que poderiam apoiar grandes eventos culturais, no intuito de promover desenvolvimento sócio-econômico de nossa cidade, mas não colaboram, só para “eventos de massa”. Se o município cumprisse com a Lei de Incentivo à Cultura ficaria mais fácil, as mesmas poderiam colaborar com as iniciativas em geral e ter como uma contrapartida os incentivos fiscais. JN: Como você observa atualmente a cultura jequieense? Thiago: Nossa cidade é carente de eventos culturais de qualidade e quando acontece, a gestão municipal não apóia, causando assim, o desgosto e o desprestígio do público aos eventos culturais, como shows musicais, de teatro e outras linguagens artísticas. O Grito Rock, por exemplo, é um evento que ocorre simultaneamente em várias partes do mundo, que faz transitar artistas de várias localidades chamando a atenção nas redes sociais e nas mídias alternativas. Lá fora essa iniciativa ganha força com o apoio dos municípios que compreendem a importância de promover a diversidade cultural, movimentar os espaços públicos e apoiar os artistas locais. Infelizmente, isso ainda não foi compreendido por aqui. Estamos lutando apenas pela infraestrutura de palco e som junto ao município para recebermos em praça pública artistas de várias partes do país e divulgarmos as nossas bandas locais. Os cachês, transporte e hospedagem ficam por conta dos Coletivos em parceria com empresários. Mas, parece que a verba da Cultura do município e a disposição do órgão estão comprometidas com o São João. Acredito que os artistas precisam se aproximar mais uns aos outros e não ficar frustrados com esta situação, enfrentar essas faltas de condições e trabalhar com desejo e estímulo de mudança para o fomento cultural e para o bem da nossa cidade. Portanto, o Coletivo está de portas abertas para qualquer informação e colaboração nas atividades da nossa cidade.