Repúdio ao aumento dos deputados (por Oswaldo Braga). Vale a pena ler!

19/12/2006

Sempre ouvi dizer que o Brasil é um país rico: Quando criança, na casa dos meus pais, depois na escola, e quando “ganhei o mundo”, já adulto nas ruas dessa, que é minha querida cidade de Jequié, e de outras cidades baianas, brasileiras. Nas empresas, nos bares ou palanques televisivos, qualquer pessoa sabe que as riquezas do Brasil são imensuráveis; que os estrangeiros sempre estiveram e ainda estão de olho grande em nossas riquezas. O meu pai dizia que a maior riqueza de uma família, ou de uma empresa, ou de uma nação, era o capital humano que possuía. Assim, contrariando o meu amigo e pai, sempre comunguei com a idéia dessa abundância, até que passei a perceber melhor o quão abstrata é a riqueza propalada pelos políticos. Na verdade, o Brasil é um país, eminentemente, pobre. Considerando as premissas básicas da riqueza, como preconizava o meu pai, vejo um país mendigo, com mais de 60 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, vegetando na miséria, em meio a outros, nem tão mendigos assim, desempregados, moradores de ruas, sem teto ou terra, chafurdando na lama social, criada, estratégica, proposital e, porque não dizer, criminalmente, pelos poderosos que se arvoram donos do mundo. Nesse contexto seguimos o curso da vida feito cordeiros, sem qualquer contestação que mereça registro, apenas observando respeitosa e admiravelmente os que efetivamente desfrutam da riqueza, na concepção material, capitalista, neoliberal, numa clara inversão de valores, na qual o ser humano vale cada vez menos. A prova cabal disso é o fato de mais de 80% da riqueza global estar em mãos de menos de 5% da população. As pessoas passaram a acreditar que toda riqueza é eminentemente material, sem prestar atenção na riqueza que são elas mesmas. Não creditam a si próprias a força necessária para desenvolver seus projetos de vida, quando os têm, e muito menos conferem poder às suas personalidades, pensando tratar-se de atributo exclusivo de políticos, ou pessoas investidas de poder contextual. Assim, quando os deputados aumentam os próprios salários em mais de 90% - enquanto a inflação medida não chega a 29% -, e estabelecem teto de R$ 24.500, a imprensa, num “frisson”, ávida de notícias que aumentem vendas, denuncia, mas a sociedade não se sensibiliza, organizando-se, porque não se considera o suficientemente potente para contestar, e muito menos para debelar tais atos. Perguntam-se: “Quem sou eu, hein?” Dessa forma estamos à mercê da voracidade de políticos inescrupulosos (salvando-se raríssimas exceções), por nós, estupidamente, escolhidos. O salário mínimo aumentará de R$ 350 para R$ 375, em maio de 2007. Se dividirmos o aumento dos deputados, que é de R$ 12 mil, aproximadamente, pelo aumento do mínimo, que serão parcos R$ 25 - daqui a cinco meses ainda -, encontraremos o surpreendente número que significa 480 vezes mais. O salário de um deputado, se aprovado - daqui a menos de 15 dias -, equivalerá aos salários de 70 trabalhadores juntos, ou aos salários de trabalhadores de pelo menos 30 microempresas. Se considerarmos subsídios como moradia, automóveis, motoristas, secretárias, seguranças, empregados, telefone, água, energia, viagens, entre outras benesses, os números, certamente, serão estratosféricos. Nós, do Instituto Vi-ver Inter-Ação Social, manifestamos nosso repúdio por tal aumento dos congressistas, o que consideramos claro desrespeito aos que sofrem as agruras da miserabilidade material, psicológica, do desemprego, da falta de oportunidades, da ignorância ou analfabetismo para enfrentar animais peçonhentos como esses que, gulosamente, metem a mão no erário público para locupletar-se, sem oferecer respostas sociais satisfatórias que possam fazê-los merecedores. Urge que a sociedade civil organizada se manifeste, e o povo se aperceba da riqueza que é ele mesmo, e do poder que é possuidor, a fim de que nunca mais tenhamos políticos como Collor, Maluf, e outros tantos, como os “mensaleiros” e os da “Máfia das Sanguessugas”, que, praticamente, saíram impunes. Por tudo isso, infelizmente, o Brasil é um paradoxo paupérrimo. Oswaldo Braga – Graduado em Letras; pós graduando em Gestão de Pessoas; Presidente do Instituto Vi-ver Inter-ação social; Instrutor para cursos de liderança e empreendedorismo para o Sebrae-Ba.