Relato de um cidadão indignado. Por Lucas Ribeiro.
20/02/2015
Ao me dirigir à Santa Casa de Saúde de Jequié, ontem à tarde (18/02), fiquei tristemente surpreendido ao perceber que a via que dá acesso a esse importante equipamento público, ainda não foi pavimentada. Após a parte asfaltada do trajeto, foi preciso muita habilidade para contornar os buracos e os cascalhos que constituem a íngreme ladeira que dá acesso à recepção do hospital. Para quem utiliza a motocicleta ou a bicicleta como veículo condutor, ou mesmo os que vão visitar seus familiares a pé, as chances de sofrer um acidente são enormes. Há buracos por toda parte. Em períodos de chuva, o chão fica escorregadio e as crateras se transformam em obstáculos intransponíveis.
Não consigo imaginar uma justificativa possível para tamanho descaso. O que impede o governo municipal de asfaltar aquela ladeira, considerando que ela é a única via possível de acesso ao hospital? As questões políticas, ou melhor, a politicagem que pode incidir sobre essa ingerência do governo, não nos interessa. Interessa-nos, apenas, que o problema seja resolvido com a máxima urgência.
O fato de o referido hospital ter sido, supostamente, obra do esforço pessoal de um adversário político da atual prefeita, não pode justificar os transtornos sofridos pela população. Ou será que justifica? Isso depende muito do que a “população” representa, tanto para prefeita, quanto para seus secretários e correligionários. Sobre isso, é melhor pensarmos que não significamos nada. É possível que sejamos idealizados como algo ainda pior – pior que o nada, ou qualquer outra coisa que possamos imaginar. Em suma, Jequié convive com a cronificação de um modo obsoleto de operar o serviço público e com a burocratização e os fenômenosque caracterizam graves situações de violência institucional.
A referida ladeira da Santa Casa, a ridícula e defeituosa fonte luminosa da Praça da Bandeira, a falsa reforma da Praça Luiz Viana, o abandono ao Museu, à Casa de Cultura e ao Palácio das Artes, bem como o descaso com a Biblioteca Central, sem falar da destruição das Velas Culturais e do desorganizado e atrasado calendário escolar, tudo isso, somado a desorganização do nosso trânsito, aos elevadíssimos índices de violência nas nossas periferias e a falta de apoio aos movimentos sociais e culturais da cidade, agregado ao atraso e a má vontade de honrar os compromissos de apoio financeiro a importantes entidades como APAE e tantas outras, são apenas questões cosméticas tratadas com o fisiologismo que é característico de um governo incompetente e desconectado com os anseios da população.
É importante salientar que cada cidadão tem o direito e o dever de exigir tudo que lhe fora prometido de forma entusiasmada e ilusoriamente verdadeira. O que garante a manutenção indevida de determinados grupos políticos no poder é o comodismo da sociedade que parece não reconhecer seu poder de transformar a realidade. Sei que parece piegas, mas é válido dizer: o verdadeiro poder é do povo. Quando Aristóteles diz que “a política não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer justiça”, parece que estava tentado estabelecer um diálogo com a nossa atual prefeita. Contudo, diante da disparidade intelectual entre os dois, julgamos que o tempo, sempre sábio, resolveu ceifar a vida do mais ilustre aluno de Platão, poupando-o, dessa degradável experiência.
Lucas Ribeiro Novaes
Psicólogo, Especialista em Saúde Mental e Professor.