Psicólogo Gilberto Leocádio fala sobre lançamento de seu livro que tem como tema o drama dos bancários com LER/DOT.

05/03/2018

JN: Conte um pouco sobre a sua história acadêmica.

Gilberto Leocádio: Eu sou psicólogo e fiz mestrado e doutorado em ciências sociais pela UFBA. O livro é resultante da minha tese de doutorado. Comecei a carreira acadêmica dando aula como professor substituto na UESC no ano 2000 a 2001. Em setembro de 2001 entrei para UESB por concurso público e onde me encontro até hoje. Atualmente sou professor titular da UESB trabalho com pesquisas sobre processos psicossociais da saúde e lecionando em curso da área de saúde como enfermagem, fisioterapia, odontologia e farmácia.


JN: No dia 2 deste mês você lançou o livro “Assumindo a Doença: o drama dos bancários com LER/DOT”. Fale para nós sobre essa obra, de todo contexto que envolve a questão.

Gilberto Leocádio: A obra em questão é uma análise psicossocial dos dramas dos bancários com LER/DORT. É um esforço reflexivo para compreender o mundo social dos bancários acometidos por LER/DORT. Tem por objetivo compreender as relações existentes entre as tensões, o drama e o sofrimento experimentado para assumir o seu papel de enfermo e o ambiente vivido por eles no trabalho, na família e na sociedade. Meu interesse maior é compreender como a enfermidade afeta a saúde mental dos bancários com LER/DORT. A situação dramática que tem consequências psicológicas profundas. Destaca-se no livro o estigma do enfermo de LER/DORT; a ambiguidade dos diferentes médicos: (medico assistente, médico perito do INSS, médico do trabalho e o médico ligado ao banco); a situação de indefinição e de angústia do enfermo por estar num jogo de empurra: o banco joga para o INSS e o INSS devolve para o banco e como resultado o trabalhador fica sem o benefício do INSS nem o salário do banco. E mais algumas outras questões.

 

JN: Por que a escolha desse tema para escrever o livro?

Gilberto Leocádio: Primeiro pela insatisfação do lugar da psicologia e sociologia na ciência. É como se psicólogos não fizessem ciência. Por muito tempo no Brasil o debate da saúde/doença ficou restrito à abordagem biomédica. No caso da LER, temos uma ideia clara de uma lesão (de nervos, músculos e tendões), provocada por esforço biomecânico repetitivo. E a literatura vigente abordava essa definição e no máximo falava de medidas de prevenção. Eu ficava bastante insatisfeito com aquelas respostas. Acreditava que existia um espaço a ser explorado. A LER era o tipo de doença importante para investigar os fatores psicológicos, sociais, organizacionais. Minha hipótese inicial é que os fatores organizacionais e as praticas gerenciais como o trabalho sobre pressão poderia ter consequenciais psicossomáticas. Ao longo da pesquisa pude perceber a transversalidade não apenas de fatores organizacionais e psicológicos, mas de outros como a relação econômica e política.


JN: Por um bom tempo ouvíamos falar muito sobre a LER. Mas, atualmente não se fala tanto... Você tem informações se houve redução no índice de casos dessa doença?

Gilberto Leocádio: O fato de não estarmos mais ouvindo falar não significa que os casos diminuíram ou desapareceram. As lesões músculo esqueléticas constituem os maiores índices de afastamento do trabalho. Nos anos de 1980 e 1990 houve muito susto e espanto pela epidemia e não eram conhecidas a fundo as causas da doença. Esse espanto foi intenso aqui no Brasil, Japão, Estados Unidos, países escandinavos e Austrália. A visibilidade de uma doença depende muito de como uma comunidade de ciência, de sindicato, de políticas públicas promovem o debate. Como disse a LER/DORT e doenças músculo esquelética constituem dos maiores índices de afastamento do trabalho. Esse fenômeno tem consequência direta na economia e principalmente nas contas públicas, especialmente na Previdência Social. Deduz-se disso que o governo não queira dar a visibilidade a essa questão.


JN: Para aqueles que tiverem interesse de adquirir o livro, como fazer?

Gilberto Leocádio: Pode ser comprado diretamente comigo, no valor de R$ 40,00. Pode entrar em contato pelo email: [email protected] ou então entrar em contato com a edições UESB pelo site http://www2.uesb.br/editora.