O multiartista, Thiago Barbosa, desabafa ao falar do seu trabalho e da cultura jequieense.
30/03/2012
JN: Para que os nossos internautas o conheça, fale um pouco do seu trabalho para nós.
Thiago: Primeiro é um prazer e uma honra está sendo entrevistado por vocês do Jequié Notícias, isso prova que meu trabalho é notório. Produtor, diretor e ator (DRT Bahia) de teatro, Designer Gráfico, Técnico em Informática e Radiologista, são as profissões que acumulei ao longo dos meus 27 anos de idade. Trabalhei em várias empresas de Jequié nas mais variadas funções, mas o trabalho que mais gosto e sou reconhecido é o que desenvolvo no palco: atuar e dirigir espetáculos teatrais. Comecei aos 12 anos de idade, fiz cursos e oficinas com vários diretores e técnicos de Jequié e de varias outras cidades da Bahia, mas foi Deus e Diabo na Terra do Sol encenado pelo Grupo Mutirão – de Barnabé – que me projetou e me mostrou um mundo cultural bem mais amplo que os morros de Jequié. Com este espetáculo fui para o Espírito Santo, ficamos em cartaz um mês, e foi lá que conheci outros profissionais com diversas técnicas, outras linguagens. Lá experimentei a perfeita sensação de viver apenas e exclusivamente do teatro, um sonho para qualquer artista teatral, pois essa realidade em Jequié é pra poucos. Também em Vitória enfrentei novos desafios como participar de musicais e ter a melhor e mais lucrativa experiência teatral da minha carreira, ser ator de Teatro Empresa, uma linguagem mais educativa, platéia garantida e cachê antecipado. Por esses braços teatrais me encontrei e hoje tenho meu Musical respeitado e começo a me programar para criar minha própria empresa de Teatro Educativo com espetáculos sob encomenda, que projeto divulgar em 50% das cidades baianas em 2013.
JN: A comédia musical “De volta aos anos 50” já se apresentou algumas vezes em Jequié e teve boa repercussão na mídia local. Como surgiu a ideia de fazer um espetáculo com esse tema, já que você é um rapaz jovem e naturalmente teria um olhar para temas do mundo contemporâneo.
Thiago: Essa é fácil responder. De volta aos anos 50 veio da experiência no ES, lá conheci uma Companhia que desenvolve temas antigos. Quando assisti um desses trabalhos intitulado Sexo, Drogas e Rock n’ Roll, uma outra versão de De Volta aos anos 50, fiquei completamente envolvido. Imaginei que na Bahia poderia funcionar e ao mesmo tempo percebi que artista tem que se reciclar, ver outros trabalhos e descobrir as vertentes que faz sucesso, além de ousar para aprender. Eu me tornei um profissional que gosta de estar antenado nos produtos de boa qualidade, sou eclético, mas só gosto de coisa boa e principalmente respeito meu público. Jamais encenarei um espetáculo se não tiver certeza da aprovação da platéia. Com o Musical foi assim, depois uma tentativa frustrada arquivei a idéia e em 2009 executei com apoio da Prefeitura. Tenho vários projetos bem bacanas, mas como a vergonhosa Prefeitura de Jequié não tem uma política de apoio e incentivo aos artistas locais (apenas cartazes e panfletos) vou executar aos poucos todas as vezes que o Estado quiser me apoiar. Já é alguma coisa.
JN: Ainda falando da comédia musical, são quantas pessoas que fazem parte do elenco? Houve algum apoio para a montagem e realização dos eventos?
Thiago: São 12 talentos - dez atores e dois operadores técnicos: Hion Oliveira (Betão), Thiago Barbosa (Meleka), Sidnei Maciel (Nicolau), Douglas França (El Broto), Ricardo Lucas (Rick), Roberta Almeida (Sharon), Jéssica Barbosa (Zuleide), Beatriz Miranda (Bia), Vanessa Pereira (Glorinha) e Denise Arrais (Filomena). E ainda Pelé (iluminador) e Álvaro Trólleo (Sonoplasta). Alysson Andrade na produção executiva e as coreografias, cenários e figurino são assinados por mim.
Inclusive gostaria de aproveitar e convidar duas atrizes interessadas e com disponibilidade de viajar nos fins de semana para substituir duas jovens que saíram do espetáculo por motivos particulares, o espetáculo fará algumas viagens nos meses de julho e agosto com a primeira apresentação em Porto Seguro.
Quanto ao apoio, sim, houve apoiadores. Em 2009, a Prefeitura de Jequié nos auxiliou na montagem e em 2012 o Governo do Estado da Bahia (através da Secretaria de Cultura, da Fazenda e do Fundo de Cultura) nos patrocinou na reestruturação da peça em todos os itens e em contrapartida cobramos valores populares, além de duas apresentações gratuitas na cidade (estão marcadas para os dias 17 e 18 de abril com arrecadação de alimentos, brinquedos ou roupas para serem distribuídas nas entidades filantrópicas de Jequié). Atualmente aguardamos resposta do patrocínio do BNB Cultural para circulação em todo estado.
JN: Atualmente, como você observa cenário cultural de Jequié em relação ao apoio aos artistas da terra?
Thiago: Uma droga. A começar por uma parte da população e do comércio que está entregue aos eventos globais. Há cidadão que paga R$ 60 em dois ingressos e nem questiona, o nosso que está a preço popular e poucos se interessam. Nossa maior divulgação é o “de boca em boca”. Nada contra os globais, eu também assisto, mas não entendo por que fora daqui nós somos mais valorizados que em nossa terra. Estou em contato com vários produtores que estão muito interessados em levar-nos para suas cidades, diversos entram nos nossos sites de relacionamentos e nos cobrem de elogios, publicam em seus sites e blogs o quão bom é o nosso trabalho. Isso me alegra, mas gostaria que nossa população acreditasse mais nos talentos de nossa cidade. De volta aos anos 50, por exemplo, teve nos últimos anos um investimento de mais de R$ 35 mil, só a nossa iluminação custa 8 mil, um trabalho digno de inúmeros prêmios sob comando de Pelé (iluminador do Centro de Cultura) um dos melhores da Bahia, que é jequieense. Nossa divulgação é cara e de qualidade, mesmo assim não conseguimos encher a casa. Possuímos um grande figurino, com sonoplastia de qualidade, temos dois atores premiados em outros festivais, e a população e o comércio não dão valor.
Outra forma de apoio pouco fornecida aos artistas locais é a mídia. Próximo mês será exibida uma reportagem sobre o nosso espetáculo na TV Cultura, os responsáveis saíram de Salvador e vieram aqui, enquanto os daqui nem sequer vão assistir nossos trabalhos, ao contrário, dão apenas 20% de desconto na chamadas ou nas publicação, não agravando a todos. Como posso me orgulhar de uma mídia dessas? Poucos jornalistas se interessaram em assistir meu espetáculo, patrocinado pelo Estado, que pra mim é algo fora do normal, pois acredito que o estado não apoiaria trabalhos de baixa qualidade.
Desculpem-me alguns membros do nosso Conselho de Cultura, mas até agora, posso está errado, mas me parece que nenhum foi também assistir o espetáculo, assim como não prestigiaram o 3º Festival do Sudoeste, que ocorreu ano passado. Eu nem preciso dizer o que deveria significar a presença dos conselheiros nas apresentações. Eles também são formadores de opinião.
Nosso espetáculo iniciará sua turnê em julho e não temos o menor interesse em divulgar o nome de nossa cidade, divulgaremos o nome do estado da Bahia que nos ajudou, se Jequié não se orgulha de nós por que teríamos a obrigação de divulgar talentos enfatizando que somos daqui? Eu tive a sorte de ter uma Secretaria de Cultura de Jequié bem direcionada em apoiar aos artistas locais nos primeiros meses da gestão atual, mas posteriormente os gestores atuais não estão nem aí para os artistas. Recordo-me que na última Conferencia de Cultura, dados fornecidos diziam que Jequié tinha investido 5 milhões de reais em cultura durante a gestão atual (risos). Onde estão? Quais artistas podem agradecer pelo apoio? Pelo amor de Deus! Contaremos ano que vem com outros apoios e daremos um vôo bem maior com o Musical e a nossa mídia será a TV aberta, e vamos ver se Jequié merecerá a nossa divulgação.
Sem mais para falar ou desabafar, quero agradecer a todos do Jequié Notícias e dizer que contamos com vocês nos dias 17, 18, 19 ou 20 de abril nos Centro de Cultura e Palácio das Artes, a presença de vocês é muito importante para nós. Um grande abraço aos amigos e parceiros, ao elenco e ao nosso público fiel.