O jequieense jornalista e cineasta, Douglas Dwight, fala conosco.
29/11/2009
Douglas Dwight Tourinho Lapa é formado em jornalismo e cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Fez cursos de Teatro no Grupo Divulgação (UFJF) e na Escola Martins Penna (Rio). Já escreveu diversas peças de teatro e foi roteirista e diretor em muitos longas e curtas metragens pelo Brasil, tendo recebido diversos prêmios por seus trabalhos.
JN: O cinema brasileiro já apresentou algumas produções que foram indicadas para o Oscar, mas nunca o conquistou. Nós realmente ainda não estávamos preparados? Dá pra fazer projeções para os próximos anos?
Douglas: O cinema brasileiro se profissionalizou muito; da época que ficou conhecida como “Retomada”, com o lançamento de Carlota Joaquina, todo mundo constatou que era possível reconquistar o público. Muitas escolas de cinema surgiram no país. Quando me formei em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1985, só havia três cursos universitários no país. Hoje são muitas escolas revelando jovens talentos o tempo todo. O Brasil hoje faz cinema de qualidade internacional, sem, no entanto, perder a identidade cultural. Eu acho que o Brasil ainda vai estar presente muitas vezes no Oscar como também em outros festivais internacionais renomados. Estou muito curioso para ver o novo filme de Arnaldo Jabor, meu cineasta brasileiro favorito, que depois de mais de 20 anos sem filmar está retomando a carreira. E para os próximos anos, com a facilidade de se filmar em HDV, vão surgir muitos profissionais no mercado.
JN: Após sucesso de uma obra cinematográfica, geralmente quem ganha notoriedade na mídia são os atores e diretores. Na sua opinião, os roteiristas são injustiçados neste sentido, pois pode-se dizer que o roteiro é a alma de um filme?
Douglas: Roteiro é a base de tudo. Os roteiristas muitas vezes são esquecidos. Muita gente nem sabe qual é a função de um roteirista. Mas cinema é a arte do coletivo. Não adianta ter um excelente roteiro, se a direção, o elenco, a fotografia, a edição não forem bons. Cada profissional tem de dar um melhor de si para que o resultado final tenha qualidade. Mas quem desperta mais interesse num filme, por parte da mídia, são os diretores e o elenco. Raramente os roteiristas são mencionados. Mas uma coisa boa aconteceu dos anos 90 para cá: o respeito ao trabalho dos roteiristas. Antigamente o diretor fazia tudo, inclusive os roteiros. Houve uma profissionalização das funções e isso foi muito positivo para o cinema nacional.
JN: Em entrevista recente, você mencionou a montagem de alguns musicais, inclusive sobre o nosso saudoso Waly Salomão. Existe previsão para realização da obra ou ainda é um projeto para o futuro?
Douglas: O musical não é uma biografia do Waly. Fala de um grupo de amigos que são fãs dos tropicalistas e que tiveram como parte da trilha sonora de suas vidas as canções de Wally, Gil, Caetano, Mutantes, Capinan, Torquato Neto...A referência e homenagem a Wally fica por conta do título do espetáculo que vai se chamar “Vapor Barato”, uma das canções brasileiras mais lindas de todos os tempos, composta por Waly em parceria com Jads Macalé. Ainda não tem previsão de estreia.
JN: Jequié já possuiu três cinemas: Cine Bomfim, Cine Auditorium e o Cine Jequié, sendo que estes dois últimos funcionaram paralelamente por um grande período. Hoje em dia a cidade carece de um cinema, muitos jequieenses nunca entraram numa sala de projeção. Você acha que a ausência de investimento para a construção de um cinema em nossa cidade se deve a inviabilidade comercial devido principalmente ao comercio pirata de DVD no Brasil ou a pontos de vista meramente comerciais?
Douglas: Eu acho que se Jequié tivesse um cinema com lançamentos sincronizados com o resto do país, a população prestigiaria sim. Nada substitui o ritual de uma ida ao cinema. É muito prazeroso assistir a um filme na sala escura, num telão e com outras pessoas compartilhando o mesmo momento. Tenho saudade do Cine Jequié e do Cine Auditorium, onde assisti a excelentes filmes durante minha infância e adolescência e descobri minha vocação profissional. Lembro exatamente do dia que assisti ao filme com James Dean ,“Juventude Transviada”, no Cine Jequié. Não entendo o que acontece que ninguém investe na reabertura do Auditorium como cinema – é um prédio muito bonito, com excelente localização e que é uma referência da cidade. Acho que os DVDs piratas não inviabilizam uma ida ao cinema não, se fosse assim as outras cidades também não teriam salas de exibição. Eu acho que os empresários da cidade deveriam se unir numa cooperativa ou associação e tentar reabrir o Cine Auditorium, mas com uma boa infraestrutura, com conforto e equipamentos de projeção e sons de qualidade. Recentemente tentaram lançar um cinema por aqui, mas a localização era péssima, som fora de sincronia, tudo muito ruim. Fui uma vez e não retornei mais. Acabou fechando. Fico na torcida para que os empresários da cidade se sensibilizem e possam dar um cinema de presente aos jequieenses.
JN: Recentemente foi lançada a 3ª edição da revista Mais em nossa cidade. Para quem ainda não a conhece, o que compreende o conteúdo deste periódico? Como surgiu a idéia de fazer uma revista voltada em parte para a cidade Jequieense?
Douglas: Quando o pessoal da Canal Propaganda me convidou para criarmos uma revista para a cidade, conversamos muito para chegar ao perfil que teria a publicação. Com minha experiência em jornalismo, especialmente de revista, sugeri que criássemos uma revista que dialogasse com cidade, mas também com nosso estado, nosso país, como escrevi no primeiro editorial. Queremos passar para a população tudo o que achamos interessante e que seja legítimo. A Mais é uma revista de variedades que poderia ser feita em qualquer cidade brasileira. Queremos proporcionar ao leitor uma leitura informativa e prazerosa— compartilhando tudo o que achamos interessantes com a população de Jequié. Mas acabamos de lançar a número 3, ainda estamos experimentando uma linha editorial e, com o tempo, vamos querer sempre aprimorar o perfil da publicação e para isso é necessário ter um feedback dos leitores. Até agora o retorno tem sido muito positivo.