Na reta final da minissérie, Zéu Britto inaugura espaço cultural no Rio e prepara novo disco.
28/09/2013
Natural de Jequié, Zéu Britto é uma excentricidade. Multiartista, já se envolveu com música, teatro, cinema, apresentação de programas e quadros televisivos em canais fechados e abertos e, agora, administração de um espaço cultural no bairro histórico de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. É na cidade que o baiano vive há alguns anos e construiu boa parte de sua carreira. No currículo, participação em trilhas sonoras de diversas peças teatrais, séries de TV e filmes brasileiros como: "Lisbela e o Prisioneiro", de Guel Arraes, com a canção Dama de Ouro e “Meu Tio Matou um Cara”, de Jorge Furtado, com a canção Soraya Queimada. Outra, que não entrou em nenhum filme, mas é sucesso do seu primeiro disco de inéditas, é o Hino em Louvor à Raspada, composta em homenagem à atriz Cláudia Ohana e seu polêmico ensaio na Playboy. “Essa música foi tão necessária na época, porque eu vi a Playboy e senti que deveria imortalizar aquele momento revolucionário. Nanda Costa eu achei comportadinha”, alfinetou em entrevista ao Bahia Notícias. No ar até o final deste mês em “Saramandaia”, Zéu Britto já tem um disco engavetado, pronto para gravar e uma “vontade louca” de voltar à Bahia. Nem que seja para os 15 dias de férias que ele se dará em outubro.
BN – "Saramandaia" já está na reta final, mas conta um pouco como foi o processo e o convite para participação no elenco?
ZB – Foi um convite do Fabrício Mamberti, que é o diretor geral da novela. Ele já havia me convidado, no ano passado, para fazer uma participação na novela "A Vida da Gente", uma novela da 18h. Nessa novela eu interpretava um cantor de bolero nos bailes da terceira idade. Apesar de ter sido uma participação pequena, pontual, foi muito legal. Ele já gostava desse meu lado musical, antes de me convidar para "A Vida da Gente". Agora a gente retoma isso em "Saramandaia", com esse papel de um barbeiro que é maestro também. Quando eu soube que iria fazer esse personagem, eu fiquei muito feliz, porque quando tem música envolvida parece que são as duas faces do mesmo artista.
BN – Esses foram os primeiros personagens em que você conseguiu unir essas duas paixões?
ZB – Não, antes houve a série global "Sexo Frágil". Meu personagem era tão doido quanto este de "Saramandaia". Eu era porteiro de um prédio e todas as noites eu fazia show em uma boate.
BN – Já é uma característica do seu trabalho, então?
ZB – É, é engraçado isso. Ano passado eu fiz uma participação em "Louco por Elas", de João Falcão. E fiz um personagem também assim, que tinha uma carreira musical. Esse personagem cuidava da casa de um avô, tinha um caso com a personagem de Glória Menezes e promovia saraus para ela.
BN – Essa é a primeira vez em que você fica em uma novela do começo até o fim, não é?
ZB – Em "Sexo Frágil" eu também participei do começo até o fim, mas era um programa. Em novela, essa é a primeira vez.
BN – E como tem sido sua rotina aí no Rio?
ZB – Fiquei muito feliz, porque você sente o crescimento do personagem, a evolução da história, você se sente inserido em algo que pode te levar para qualquer rumo. Não é uma coisa pré-estabelecida, como foi nas participações que já fiz nessas outras séries e novelas. Tanto nestas participações, quanto no teatro, você sabe desde o início qual será a sua atuação, mas na novela não, tem essa coisa da audiência, da expectativa do público e da possibilidade de a gente se adequar ou não a ela. Tudo pode acontecer.
BN – Além da TV, você recém-inaugurou um espaço no qual reúne todas essas vertentes artísticas, que é o Armazém Cultural, no bairro histórico de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Há quanto tempo você matura essa ideia?
ZB – É a minha alegria. Foi quase um ano de dedicação exclusiva para esse projeto, que levo com meu sócio, o Gilson Roberto, que já dirigia os meus programas no Canal Brasil. A gente sempre esteve envolvido com essa coisa da produção cultural, mas sempre quisemos também um lugar que funcionasse como uma sede, recebesse pessoas e que pudesse ser um lugar para a arte mesmo. Esta ideia já rondava as nossas cabeças quando a gente conheceu essa casa em Santa Tereza, uma casa histórica, de 1920. A gente organizou tudo para que o espaço funcionasse como um bar, recebesse shows e exposições permanentemente.
BN – E como é o funcionamento?
ZB – Funciona todos os dias, de segunda a segunda, mas o bar só abre durante a noite nos dias de semana. Sábados e domingos, o bar funciona o dia inteiro.
BN – Li em algumas entrevistas, que você costuma fazer essa relação com "Saramandaia" e sua terra natal, Jequié. Há mesmo essa relação? Em que sentido?
ZB – Essa é muito mais uma viagem minha. Minha mãe estava grávida de mim e assistia muito "Saramandaia". Meus tios e vizinhos falavam que a novela era muito louca e que o vício de minha mãe em assití-la poderia prejudicar a criança [risos]. Apesar de não ter tido a oportunidade de ver a versão original, primeira, da novela, desde criança eu ouço falar dessa história. E sempre gostei desse universo mágico e louco, sempre gostei dos textos de Dias Gomes, dessa coisa do realismo fantástico. Quando eu fui convidado para o elenco, senti realmente que foi o fechamento de uma história.
BN – E você já teve a oportunidade de ver algo da "Saramandaia" original?
BN – Pouquíssimas coisas, durante uns workshops que tivemos, mas a maior parte do material se perdeu durante o incêndio que teve na Globo. Na internet também tem algumas poucas coisas. Inclusive, fomos mesmo aconselhados por Ricardo Linhares a não ver nada, a ficar com a mente livre para essa nova versão. A novela já era muito interessante nessa época, mas não tinha os recursos técnicos necessários, de efeitos especiais, maquiagem, para acompanhar essa maluquice toda. A versão atual é, neste sentido, mais completa.
BN – Mudando um pouco de assunto, você compôs o “Hino em Louvor à Raspada”, uma canção inspirada na Playboy de Cláudia Ohana e de toda a polêmica sobre o excesso de pelos pubianos que ela exibia nas fotos. Recentemente, a polêmica foi retomada com o ensaio nu de Nanda Costa para a mesma revista masculina.
ZB – Eu achei tão comportadinha... [risos] Esse povo é maluco, menina! Cláudia Ohana vai aos meus shows e adora quando canto essa música. É uma homenagem mesmo. Agora, essa música foi tão necessária na época, porque eu vi a Playboy e senti que deveria imortalizar aquele momento revolucionário. Nanda Costa eu achei comportadinha. É um momento meio louco esse de vigilância que estamos vivendo, mas de fato, lá em meados da década de 80, Cláudia Ohana marcou mesmo. A revista é incrível, mas quem não tiver acesso, pode pesquisar na internet que já dá para ter noção da coisa [risos].
BN – E quais os projetos à vista?
ZB – Eu estou em um turbilhão danado, porque durante a novela não tive pensar em muita coisa. Terminamos a gravação da novela há uma semana e ela fica no ar até o final de setembro. Agora, vou cair de cabeça na produção de um disco novo. Já havia anunciado isso em alguns lugares, mas não quis falar muito porque não tinha começado e está tudo muito novo mesmo.
BN – Você já está no processo de composição ou são coisas que você vem escrevendo e já estão prontas?
ZB – Eu tenho engavetado já um disco inteiro, porque eu fui escrevendo essas composições aos pouquinhos e percebi, agora, que o trabalho já se fechou enquanto conceito. Agora só preciso começar a gravar as canções, e já estou em contato com alguns músicos maravilhosos daqui. Antes disso, só quero passar 15 dias isolado, em uma espécie de retiro.
BN – Esse disco é que número da sua carreira?
ZB – Lancei o disco "Saliva-me", depois lancei o DVD "Saliva-me ao Vivo" – que conta com a participação lindíssima de Ivete – e agora estou na produção desse, que é o terceiro, mas o segundo de inéditas. Tem algumas canções dele que já canto em shows, mas nunca gravei, por isso são inéditas.
BN – E há quanto tempo você não vem a Salvador?
ZB – Ah, eu estou doido. Não fale não, não fale não! Com a novela, são mais de quatro meses aqui. Vou a Salvador agora em outubro por conta de um evento que irei participar, mas pretendo esticar, me dar essa folga [risos].
Fonte: Marília Moreira / Bahia Notícias