Mulheres se destacam como pesquisadoras na UESB. Clique e saiba mais.
03/04/2022
A participação das mulheres em diferentes espaços na sociedade tem se tornado uma realidade. Tal conquista vem acompanhada da luta incessante pela igualdade de direitos trabalhistas e pela valorização e reconhecimento dos serviços prestados pelas mulheres ao longo dos anos. Se era difícil ver mulheres em lugares, anteriormente, ocupados pelo sexo masculino, a realidade tem mostrado que a participação feminina vem crescendo nestes ambientes. Exemplo disso, são os espaços de pesquisa e produção científica. Na Uesb, atualmente, 50% dos projetos de pesquisa são coordenados por mulheres.
Atuando na área de Genética, com a linha de pesquisa em “Biologia e Genética de Abelhas Nativas”, a professora Ana Maria Waldschmidt, do Departamento de Ciências Biológicas (DCB), campus de Jequié, lembra que a presença feminina na ciência é bastante antiga e relevante. “Temos a participação de mulheres nas mais diversas áreas da ciência desde o Egito antigo, como foi o caso de Hipátia, matemática e astrônoma que inventou o densímetro ou o exemplo de Marie Curie, que descobriu e isolou os elementos químicos polônio e o rádio, juntamente com Pierre Curie”, lembra.
Waldschmidt destaca ainda o impacto dessa participação feminina na pesquisa. “Recentemente, acompanhamos a importância das mulheres em estudos relacionados à Covid-19, como Jaqueline Góes de Jesus, uma das coordenadoras da equipe de pesquisadores brasileiros, que realizou o primeiro sequenciamento do genoma do coronavírus circulante na América Latina”, destaca.
“A mulher sempre atuou direta ou indiretamente na construção da ciência. Seu papel sempre foi fundamental com relatos de pesquisadores como Einstein terem os cálculos das suas principais pesquisas realizadas pela esposa à época, Mileva”, acrescenta a professora Fabiany Cruz Gonzaga, do Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas (DCT), campus de Itapetinga.
Conquistas e desafios – Mesmo diante de uma crescente, como aponta o relatório da editora Elsevier (“Elsevier’s reports on gender in research”, 2021), em que se verifica um aumento do quantitativo de mulheres como autoras de artigos científicos nas mais diversas áreas e partes do mundo, o protagonismo feminino ainda está atrelado a muitos desafios. A falta de investimentos na área, o negacionismo, a suspensão de financiamentos são problemas a serem superados. Waldschmidt lamenta que mulheres tenham que lutar contra a discriminação da presença feminina nas mais diferentes áreas da ciência, engenharias e tecnologia. “É um absurdo que, em pleno século 21, ainda estamos lutando contra preconceito de gênero, cor da pele, origem geográfica etc. Como resultado, precisamos da união de todos, desde cientistas, sociedade e governos para tentar mitigar seus efeitos negativos”, defende.
Para a docente Cristiane Martins Veloso, do Departamento de Ciências Naturais (DCN), campus de Vitória da Conquista, outras questões devem ser levadas em consideração na produção científica. “Eu penso na ciência como algo que não deve e não tem diferenciação por gênero e sim por contribuição. As mulheres entraram no meio científico após os homens, devido a várias questões sociais, mas, com o acesso ao conhecimento, tem participado de forma efetiva no desenvolvimento da ciência”, argumenta.
Dar oportunidade para que os espaços de pesquisa sejam cada vez mais ocupados pelas mulheres pode ser outra alternativa diante das dificuldades impostas por uma sociedade machista. “A mulher hoje não é mais invisibilizada, mas ainda há muitas barreiras para o pleno desenvolvimento feminino no campo do trabalho científico, por ocasião de uma estrutura social e produtiva centrada na inserção do homem no mercado de trabalho”, aponta a professora Fabiany Cruz Gonzaga.
Relevância da pesquisa – São muitos anos de dedicação até chegar ao posto de pesquisadora de destaque. As professoras dos três campi da Uesb destinam e investem horas e horas de estudo e, constantemente, buscam contribuir com a sociedade, através dos trabalhos que desenvolvem na Instituição. A pesquisa com abelhas nativas, por exemplo, permitiu a Waldschmidt levar até as pessoas a importância do animal para nossa sobrevivência e a do planeta devido à função ecológica da polinização. “Além disso, as abelhas produzem mel, pólen e própolis que podem ser fonte de renda na agricultura familiar. Por isso, gosto muito de fazer cursos de extensão para pequenos agricultores e população em geral, onde ensinamos a importância e o manejo correto das abelhas”, relata.
Bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 2020, Veloso lembra do esforço e empenho que dedicou durante a vida acadêmica e por entender que em sua área de atuação a participação nos programas era fundamental para seu sucesso. “Tenho buscado contribuir para formação de pesquisadores e para ciência em nosso país. Atuo nos programas de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Alimentos e na Agronomia, em linhas de imobilização de enzimas e sua aplicação e, também, no desenvolvimento de filmes e revestimentos biodegradáveis”, conta.
A área de tecnologia ganha um olhar interdisciplinar e atencioso com os projetos de pesquisa da professora Fabiany Cruz Gonzaga. Atuando com o desenvolvimento de produtos tecnológicos na interface entre a química ambiental, de alimentos e de produtos naturais, a docente busca consolidar sua paixão em ser cientista desde criança. “As pesquisas buscam criar inovações que venham a ser inseridas no mercado por desenvolvimento de uma empresa de base científica ou transferência de tecnologia, dos quais já estou com um pedido de depósito de patente em andamento”, revela.
Seja na ciência, na política, no empreendedorismo, na gestão e liderança de empresas, as mulheres têm papel crucial para uma mudança positiva na valorização da ciência. Unidas e apoiando outras mulheres, a rede científica feminina alcançará o patamar que merece. “O caminho não é fácil e os desafios que devemos enfrentar são diários, principalmente fazendo ciência em nosso país. As conquistas são alcançadas com muito trabalho e dedicação, mas todo o esforço e dedicação vale a pena”, reforça Veloso.
Fonte: UESB Jequié