Membros da Igreja Católica falam sobre a renúncia do Papa Bento XVI.
13/02/2013
JN: O que pode representar a renúncia do Papa para aqueles católicos que simbolizam a imagem do Santo Padre como um exemplo de perseverança e obstinação em momentos de fraqueza?
1 - Pe. Marcos Antônio (Pároco do Convento Passionista de Jequié e da Paroquia Nª Sª Perpétuo Socorro): Certamente não é fácil pra ninguém, principalmente para um católico praticante assimilar, sem consternação, a renúncia de um Papa. Sobretudo também porque há mais de seiscentos anos um Papa não renunciava ao Ministério Petrino. Com certeza, não é uma notícia que se recebe com normalidade. Porém, quando a gente ouve ou lê as palavras do papa pronunciadas conforme o texto da renúncia, a gente logo compreende. Aos 85 nos, cansado, com sérias limitações físicas para viajar... Bento XVI entendeu que é melhor renunciar, do que faltar com seus compromissos internacionais por motivos pessoais. Perfeitamente compreensível a atitude do Papa Bento XVI; uma atitude corajosa, humilde e sensata. Atitude de quem sinceramente "pensa mais na igreja, do que em si mesmo".
2 - Pe. Vítor Menezes (Pároco da Catedral de Stº Antônio): Há quem tenha se escandalizado com a renúncia do Papa? O Papa é um ser humano, não é Deus. A Igreja não é o Papa. A Igreja tem dois mil anos e por ela já passaram vários Papas. A renúncia do Papa Bento XVI foi um ato lúcido, honesto, humilde e de bom senso. O Papa tem consciência que a Igreja é maior e mais importante que ele. Obrigado Santo Padre!
3 - Dom Cristiano (Bispo Emérito): Fica difícil responder a uma pergunta tão confusa. Não consigo entender o que a renúncia do Papa pode ter a ver com fraqueza, com falta de perseverança. Você consegue imaginar o peso da responsabilidade de tomar todo dia decisões que envolvem o futuro da Igreja e da humanidade? Admiro a capacidade de trabalho de Bento XVI que conseguiu fazer tantos discursos e escrever tantos documentos sobre tantos assuntos diferentes e ainda achou o tempo para escrever livros bem pensados que os católicos deveriam achar o tempo para ler.
Muitos criticam o Papa sem conhecer seus ensinamentos, apenas por ouvir dizer que é conservador e por ter uma vaga ideia que ele não concorda com tudo que acham e não aprova tudo que fazem. Nas minhas últimas férias na Suíça, ainda no tempo de João Paulo II, diante das críticas negativas de muitos, fiz uma pergunta assim num sermão: Será que este não é o Papa certo para este tempo de confusão no mundo e na Igreja, o Papa escolhido pela providência divina? Desde então, também tenho "fama" de conservador.
Sei que é difícil achar um substituto à altura para o Papa atual, mas ele é bastante realista para saber que não é insubstituível. Tudo indica que a ideia da renúncia surgiu a partir das dificuldades da viagem a Cuba e ao México. Acho que a decisão final foi tomada pensando na jornada mundial da juventude. Por mais que Bento XVI ainda quisesse participar deste evento importante, a perspectiva de eventuais impedimentos por problemas de saúde pode ter contribuído para resolvera a deixar o tempo necessário para escolha de um sucessor que pudesse participar da JMJ.
Outro palpite pessoal, sobre a sucessão: O novo Papa pode ser ainda um Italiano. Ou o primeiro Africano, o primeiro atual do Oriente, o primeiro das Américas, talvez do Brasil. Pode ser um que não é Cardeal. Talvez será mais um Leão. Será uma nova Pedra para firmar a Igreja na unidade.
4 - Monsenhor Haroldo Coelho (Pároco da Paróquia Nª Sª da Imaculada Conceição): Representa, antes de tudo, a fidelidade em servir a Deus, um ato histórico de coragem implícito numa singular postura apostólica, o zelo pelo bem da Igreja e a certeza de ter honrado a Catedral de Pedro, como Pai e Pastor. Agora, o cajado da oração e, sem dúvida da contemplação, também lhe guiará nos dias em que o Divino Pai lhe conceder o dom da vida, fazendo suas, as palavras do Apóstolo Paulo: combati o bom combate, guardei a fé e o zelo pela Igreja de Cristo. Certo estarei da posse da coroa da vitória.
5 - Pe. Washington Ribeiro (Vigário da Catedral de Jequié e Chanceler do Bispado): Acredito que muitos católicos em todo o mundo receberam com espanto e surpresa uma notícia até então inédita na era moderna: A renúncia de um Papa. Ainda não sabemos o que essa decisão pode representar ou significar de agora em diante na história da Igreja e na mente de muitas pessoas. O fato é que Bento XVI, por seu gesto humilde e corajoso, tendo consciência de suas debilidades físicas nos mostrou que ser Papa é mais um serviço do que um cargo de poder. Ele lucidamente renunciou a um ofício, não à sua Igreja, á sua fé ou à sua vocação. E o fez depois de quase oitos anos como Papa, numa idade de 85 anos e uma vida inteira doada à missão e ao Reino. Sua renuncia não pode ser encarada como aversão à vontade de Deus, como um desestimulo na caminhada de quem crê ou apenas como um gesto de fraqueza, mas como ato nobre e responsável de amor à Igreja. O centro da fé não é o Papa, mas Jesus Cristo. A Igreja caminha para além do Papa. É em Cristo que todos nós nos movemos, vivemos e somos. E isso Bento XVI traz muito claro em sua vida, em seu ministério e em seu gesto.