Jorge Salomão fala do livro que escreve sobre Waly, entre outros assuntos.
10/09/2012
JN: O livro que você está escrevendo sobre Waly Salomão é biográfico?
Jorge: Estou em processo de criação, pretendo lançá-lo em janeiro próximo para que ele tenha uma fermentação muito boa, pois em maio faz 10 anos sem o Waly. Resolvi escrevê-lo porque eu sei muitas histórias de nossas vidas, não é uma biografia no sentido acadêmico da palavra, é um retrato leitura de nossas vidas aqui em Jequié, Salvador, no Rio de Janeiro na época da ditadura. Naquele tempo tudo era muito diferente, o próprio caminhar de Jequié para a capital era difícil, estradas sem asfalto – muito longe – mas, nossas vidas desde aqui foi fomentada com muitas ideias sobre trabalho, cultura, sobre tudo...
A mudança para Salvador foi um verdadeiro baque transformatório de tudo que pensávamos e idealizávamos. Vivenciamos fatos inusitados no trajeto da viagem; gente vendendo cobra enrolada no pescoço, criança partindo para cheirar o tubo de gasolina e poder cantar, tudo isso mexeu muito com o nosso imaginário... Mas, na verdade a ciência das coisas adquirimos através de meu pai, um homem fascinante, um lutador! E da minha mãe Bete Salomão que foi um prêmio, nos ensinou a exercitar a liberdade, a não ter preconceitos e nos guiou para sermos pessoas com vontades para o mundo.
Eu e Waly sempre incrementávamos coisas inovadoras. Sempre que ele retornava de Salvador trazia programas de peças de teatro, exposições que via, e aquilo tudo – se a gente já tinha um fogo – incendiava.
JN: Como se sente a família Salomão por a área escolhida para ser a Praça do Poeta Waly Salomão hoje em dia se encontrar completamente abandonada, mais parecendo um terreno baldio?
Jorge: Os poderes públicos querem pongar nas ideias mais brilhantes. Melhores políticas são quando agem para o bem geral da sociedade e deixam de lado essas bobagens de homenagens pós-morte. As homenagens a Waly já existem no trabalho dele, ele foi uma pessoa luminosa. Acho que Jequié deve uma homenagem a minha mãe, que não era daqui, mas sempre teve uma paixão por esta cidade, exemplo de mulher com aspecto centralizador luminoso muito forte. Enfim, não sou contrario, mas também não endosso.
JN: Você, como filho da terra, amante da cultura e das artes, como vê o descaso dos poderes públicos em relação ao patrimônio cultural, exemplificando: antiga Biblioteca Municipal entregue aos cupins, Escola João Cordeiro destruída, demolição do Belvedere Germiniano Saback e outros mais?
Acho tudo isso uma violência muito grande com o patrimônio histórico da cidade. Compete a nós que somos ligados à cultura, sempre insistir que não se deve maltratá-lo, de alguma maneira detonar com essa classe política horrorosa que só pensa em coisas imediatistas, ou então os empresários que tem a mente vagabunda, sempre focada no dinheiro.
Não maltratem o mundo desse jeito, ele não pode caminhar sem natureza, sem história, sem fundamentos de pilar da sabedoria. Fiz há tempos um planejamento de um jardim para frente do museu com plantações de palmeiras da região, buritis etc, que se tivesse sido executado até poderia se dizer que lembraríamos de Alexandria, no Egito, ao passar pela Av. Rio Branco. Nunca fizeram, não se interessaram. Porém se interessam por discursos chatos. Acho que a política de um modo geral perdeu a veia principal. Política é trabalhar com o social, mas acontece que hoje o social que as pessoas pensam é o bem próprio, é um erro. Vamos alertar a população: votem nos melhores que os melhores existem em qualquer lugar do mundo, pois outros podem deixar caminhar tão fortemente a destruição de tudo.
JN: Uma mensagem para aqueles que não cultuam a tradição da leitura.
Jorge: Isto é importantíssimo. Esqueçam um pouco a Tv, ela é um massacre! Na leitura se descobre tantos universos, tanta coisa bacana, então leiam mais. Principalmente as novas gerações, também aos professores que incentivam os jovens a conheceram a literatura brasileira, pois através dela dão-se passos para conhecer as coisas do mundo.
A leitura é fundamental, através dela cresce o conhecimento, fica-se mais amplo com o mundo e ajuda demais no sentido benéfico de atuar no universo.