Jequieenses envolvidos na Cultura da cidade comentam a suspensão de Edital de Cultura pela PMJ.
20/02/2016
JN: Qual a sua opinião sobre a suspensão realizada pela administração municipal do Edital para apresentação de propostas com vistas à seleção e concessão de apoio cultural (edição nº 1804) a cidade de Jequié, no ano passado? E quais benefícios que a cidade deixou de receber por ele não ter sido realizado?
1 - Val Rodrigues (editor da Revista Extra): O tão esperado Edital da Secretaria Municipal de Cultura, além de chegar com um atraso de três anos, foi cancelado para correção de falhas técnicas e até o momento não foi liberado. Como tudo (ou o nada) que a Secult produziu na atual administração também não funcionou. Resta-nos esperar para ver no que vai dá, já que estamos em ano de Eleições e próximo do folclórico São João. Guardarei o meu projeto para a próxima administração.
2 - Alysson Andrade (Produtor Cultural): Dado o histórico de desatenção, erros processuais e ilegalidades cometidas pelo governo Tânia/Roberto Britto, penso que a decisão pelo cancelamento do Edital de Cultura-2015 foi inevitável. Tecnicamente, o problema maior não estava no Edital em si, mas em todo o processo anterior a elaboração do Instrumento Convocatório. A prefeita Tânia Britto descumpriu o disposto na Lei nº 1.787/2008 (FUMAC) ao deixar de nomear por decreto os membros do Conselho Deliberativo do Fundo Municipal de Cultura, uma instância administrativa que tem entre suas atribuições aprovar qualquer Edital de Cultura antes que ele seja publicado em Diário Oficial, dentre outros graves equívocos processuais que inviabilizaram a seleção dos projetos.
Com a incompetência latente, os prejuízos já causados aos artistas, produtores culturais e sociedade civil em geral são irreversíveis e não se dão apenas pelo cancelamento deste Edital especificamente, mas, sobretudo, pelo fato de haver recursos enviados pelo Governo da Bahia (Fundo Estadual de Cultura) desde 2013 e estes recursos nunca terem sido investidos por meio dos editais. Por não terem sido executados anualmente, há hoje um acumulado de mais de 600 mil reais para Editais de Cultura, e desse montante, não há um só centavo de recursos próprios do município. Por fim, apesar dos recursos existirem em quantia satisfatória, o governo Tânia/Roberto Britto negligencia o setor cultural e desdenha dos fazedores da cultura local ao deixar de disponibilizar o apoio público de forma legal e republicana, colaborando para o aumento das estatísticas que colocam Jequié entre as cidades do interior com alto índice de criminalidade.
3 - Bene Sena (Músico): A suspensão do edital foi necessária, já que não foram obedecidos os critérios, os ritos, inclusos na lei que criou o Fundo Municipal de Cultura. Ritos e critérios que dão democratização na utilização dos recursos, tornando-os livres da interferência dos agentes políticos na escolha dos projetos. Na verdade, esse edital servirá para passar uma gotinha de água potável nos lábios da sociedade que aguarda por mais de três anos algum projeto na área cultural. Lábios extremamente secos. Trata-se de recursos oriundos do Estado dormindo nos cofres da PMJ há mais de três anos por absoluta falta de vontade e conhecimento dos processos para transformá-los em ações. Os prejuízos culturais causados pela atual administração não serão nem de longe amenizados com qualquer coisa que surja quando esse tal de edital sair. O buraco é muito mais embaixo, passa pelo processo civilizatório e humano dos jequieenses, principalmente, dos menos abastados. Com a questão cultural e educacional, coloquem no bolo dos que prestem o desserviço a Rádio dos Borges, de Euclides, dos Lomantos, etc. Gente estúpida.
4 - Ricardo Barnabé (Teatrólogo): Dentro da lógica não houve suspensão, sim falta de capacidade de uma Secretaria de Cultura fazer e concretizar o edital (três anos a cultura capengando).
Vamos aos fatos, para lançar o edital na classe artística, eles tinham que contratar um profissional capacitado, para orientar como fazer o edital dentro da legalidade. Este profissional chama-se Alysson Andrade – e eles não contrataram.
Não houve benefícios e sim malefícios, hoje temos dificuldade em contratar atores de talentos para o teatro, exatamente pelo abandono a Cultura.Eu, por exemplo, não consigo dois atores para montagem do espetáculo “Nos Porões da Ditadura” e “”Minha Escola Meu Futuro.
Faço uma pergunta? Nesses três anos houve alguma apresentação peça de teatro de Jequié?
Que eu saiba houve duas. Adalto com a peça “Submarino”, e eu com a “Evolução dos Sexos”, por sinal um bom espetáculo e um fracasso de público. Sabe por quê? O publico de Jequié não prestigia sua prata da casa. A Secretaria de Cultura não apoia como educar o público a assistirem peças de teatro. Então, nesse ritmo a cultura já era!
(fotos: divulgação)