Homenagem do professor Emerson Pinto de Araújo (94 a.) pelos 123 anos de Jequié, nos remete a conscientização da preservação dos patrimônios da cidade. Clique e saiba mais.

21/10/2020

RÉQUIEM PARA UMA VELHA ÁRVORE.

Nos meus livros e artigos, dentre outras coisas, homenageei os que combateram o banditismo de antanho, pugnaram pela emancipação política do município e o seu progresso.

Hoje, minhas homenagens vão para a velha árvore que viu a cidade nascer, sacrificada pela sensibilidade de um prefeito que não quis alterar o formato do canteiro do jardim em construção. Insensibilidade que data do tempo do desbravamento, quando florestas inteiras foram devastadas para o aproveitamento da madeira que servia para tinturaria. Ainda bem que os vocábulos Brasil e brasileiros permaneceram.

Nos dias que correm, novas florestas são reduzidas a cinzas, exterminando a fauna típica da região. Quanta maldade, quanta, caro leitor.

Tudo isso me leva de volta à velha gameleira da Praça Rui Barbosa, sacrificada em nome da urbanização. O próprio busto do velho Rui, um dos liminares da nossa cultura e defensor intimorato da liberdade, foi deslocado para outro local.

Destino mais cruel teve a velha árvore que viu a cidade nascer e sombrear as tropas nas suas passagens de idas e voltas.

A árvore é um exemplo vivo de servir, oferecendo frutos aos que lhes atiram pedras. É princípio e fim, é alfa e ômega. É o berço que embala a criança e o caixão que nos leva ao cemitério. Pode apresentar falha na sua copa por um galho que se quebrou.

Mas não é mal que isso aconteça, porque, nas noites de meditação, quando nossos olhos buscam o infinito, é justamente através das falhas deixada pelo galho que se quebrou, que vislumbramos uma estrela a brilhar no firmamento.

 

Emerson Pinto de Araújo

 

Salvador, outubro/2020.