Governo registra 56 mortes desde o anúncio da greve de PMs na Bahia
04/02/2012
O balanço da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) revela que 56 pessoas foram mortas das 21h de terça-feira (31), dia em que foi decretada a greve por parte dos policiais militares, até as 18h30 deste sábado (4). O dia que somou maior número de mortes foi nesta sexta-feira (3), com 31 registros. Outras 14 mortes foram registradas nesta quinta-feira (2).
Ainda segundo a secretaria, 43 homicídios foram cometidos em Salvador. Outros 13 foram registrados na Região Metropolitana de Salvador.
Carros de polícia recuperados
A secretaria recuperou, na tarde deste sábado, 16 carros oficiais que estavam em poder de policiais militares grevistas, na Assembleia Legislativa, em Salvador. Os manifestantes são filiados à Associação dos Policiais, Bombeiros e dos seus Familiares do Estado Bahia (Aspra).
Os mandados de reintegração de posse foram expedidos na manhã deste sábado (4) e cumpridos pela Polícia Militar. Os veículos foram levados para o Departamento de Apoio Logísticos. Alguns estão com pneus furados. Não houve resistência por parte dos manifestantes.
Negociações
Segundo o governador da Bahia, Jaques Wagner, os praças da PM baiana já acumulam, em cinco anos de governo, perto de 60% de reajuste, o que representa um ganho real de cerca de 35%. "Este ano, quando nem todos os governadores e nem o governo federal garantiram o reajuste linear igual ao da inflação do ano passado, nós já garantimos na Bahia um reajuste de 6,5%", disse ele em entrevista coletiva neste sábado.
O presidente da Aspra, Marco Prisco, que mobiliza o movimento, informa que não abre mão de dois itens da pauta de reivindicação: a anistia criminal dos policiais militares que participam da greve e o pagamento da Gratificação por Atividade de Polícia (GAP) V.
Os demais pontos, como o pagamento da GAP IV e a regulamentação de remuneração fruto de auxílio acidente, além de periculosidade, insalubridade, criações do código de ética e do plano de cargos e salários, segundo ele, devem ser ser negociados por uma comissão de diálogo permanente com o governo.
Grevistas
Ainda na sexta-feira a sede da Aspra foi fechada por ordem judicial. A entidade representa os policiais filiados que aderiram à greve da corporação na Bahia.
O oficial de Justiça não encontrou resistência, porque o local estava vazio. A Aspra situada na Rua da Forca, bairro da Piedade, em Salvador. A determinação judicial foi autorizada pela juíza Janete Fadul de Oliveira, após pedido feito pelo Ministério Público, e impede a realização de assembleias e reuniões no local.
Dirigentes da Aspra e policiais estão há quatro dias acampados na sede da Assembleia Legislativa, localizada no Centro Administrativo da Bahia, no bairro de Sussuarana. A entidade reinvindica o cumprimento do pagamento da Gratificação por Atividade de Polícia (GAP) IV e V, que iriam compor a remuneração dos policiais, chamada de soldo, além de regulamentação do pagamento de auxílio acidente, periculosidade e insalubridade.
O comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, diz que a corporação não reconhece a Aspra como entidade de classe e que há a rotina de reuniões semanais para tratar exclusivamente da inserção dos benefícios garantidos pendentes na remuneração dos servidores. "Estamos desde novembro [de 2011] fazendo um canal entre as associações que representam legitimamente os nossos integrantes com discussões que nos levam a um diálogo com o governo. Estamos bem avançados. Não reconhecemos a Aspra como representante legal da classe e, por terror, ele promove esse momento na comunidade baiana", avalia.
Pronunciamento do governador
O governador da Bahia, Jaques Wagner, tentou tranquilizar a população do estado em cerca de três minutos de pronunciamento oficial, transmitido pelas emissoras de rádio e TV por volta das 20h15 desta sexta-feira (3). Ele reafirmou a “intranquilidade” vivida nos últimos quatro dias, que tem resultado no fechamento antecipado do comércio, violência na rotina do trânsito e contra a população. “Estamos tomando providências para conter ações de um grupo de polícia usando métodos condenáveis e difundindo o medo na população, causando desordem”, afirma.
Presença de ministro
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deve viajar para Salvador no sábado (4) para participar das definições estratégicas para combater a violência e insegurança decorrentes da greve parcial dos policiais militares no estado, segundo a assessoria do governo da Bahia.
A previsão é que o ministro desembarque na Base Aérea da capital, às 10h, em companhia do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi, e da secretária Nacional da Segurança Pública (Senasp), Regina Miki. A comitiva nacional será recebida pelo governador Jaques Wagner, pelo comandante da 6ª Região Militar, general G. Dias, além do secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa.
A greve de parte dos PMs foi decretada na noite de terça-feira (31). A Secretaria de Segurança Pública estima que 1/3 do efetivo total, de 31 mil, esteja parado. Os policiais grevistas são vinculados à Associação de Policiais e Bombeiros do Estado da Bahia (Aspra), que organiza a mobilização, e desobedecem ordem judicial que determina retomada às atividades.
Reforço militar
Mais 144 soldados do Exército, deslocados de Recife (PE), desembarcaram no fim da tarde desta sexta-feira (3) no Aeroporto Internacional de Salvador para reforçar a segurança da capital baiana em meio à greve de parte dos policiais militares. Do aeroporto, eles seguem para realizar patrulhamento nas regiões da Paralela e Iguatemi, abarcando a Avenida ACM. Ao total, são 144 soldados do 4° Batalhão do Exército de Recife, diz o governo do estado.
A atuação do reforço ao policiamento na capital foi definida durante reunião ocorrida nesta tarde entre comandantes e chefes de segurança pública, com representantes da Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, além da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), informou o tenente-comandante Cunha, oficial de comunicação da Região Militar.
"A reunião foi feita no sentido de integrarmos as ações das diversas forças em áreas de Salvador. O objetivo é garantir a seguraça e integridade das pessoas e do patrimônio, além do direito de ir e vir do cidadão", afirma o tenente.
Atualmente, 800 militares do Exército brasileiro, além de 150 oficiais da Força de Segurança Nacional, estão na capital baiana. A previsão é de que mais 1.500 soldados do Exército cheguem em Salvador ainda nesta noite.
"Tem uma tropa da Brigada Paraquedista do Rio de Janeiro, com experiência no combate no Haiti e Complexo do Alemão [favela fluminense]. Eles vão atuar na orla, no trecho compreendido entre a Barra e a Pituba", diz o tenente Cunha.
Militares de Aracaju, Recife, Garanhuns, João Pessoa e Maceió também estão a caminho de Salvador. "Os oficiais de Aracaju vão atuar na região do Comércio e Sete Portas, a equipe do 2° Distrito Naval ficará responsável pela área de portos; e a Força de Segurança Nacional próxima ao aeroporto", relata.
Fonte: G1