Falta de apoio inviabiliza Encontro Regional de Ternos de Reis. Por Domingos Ailton.
06/01/2011
O Encontro Regional de Ternos de Reis em Jequié não foi viabilizado para acontecer nem no dia 25 de dezembro de 2010 nem no dia 6 de janeiro deste ano por falta de apoio do poder público.
Dois encontros regionais foram realizados em 26 de dezembro de 2009 em Jequié e 5 de janeiro de 2010 em Lafaiete Coutinho por conta do apoio de um edital do Fundo Estadual de Cultura, voltado para as culturas populares. Já no ano passado não houve editais estaduais voltados para esta área da cultura popular. Encaminhei em setembro de 2010 um ofício para o então secretário municipal de Cultura, Benedito Sena, solicitando apoio financeiro para realização do encontro regional de ternos de reis em Jequié. Segundo Bené Sena ele encaminhou o pedido para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico que tinha ficado responsável pela organização do Natal na cidade. Também encaminhei ao secretário Fabricio Borges e ao prefeito Luiz Amaral solicitações de apoio para a realização do encontro de ternos de reis e telefonei para Robério Chaves, secretário de Esportes, que também assumiu a Secretaria de Cultura e ao secretário de governo, Dermival Rios, pedindo que viabilizassem a realização do evento. Disseram que não tinham recursos para apoiar o encontro regional de ternos de reis.
O que muita gente tem questionado é que a Prefeitura de Jequié destinou mais de cento e trinta mil reais para a decoração da Natal na Praça Rui Barbosa (muitas pessoas entendem que o valor é alto para o que foi montado), mas não liberou seis mil reais para estrutura básica do encontro de ternos de reis como cachê para os grupos, transporte e produção.
Dia 25 de dezembro havia uma multidão na Praça Rui Barbosa. Moradores e muitos visitantes andando de um lado para outro sem nenhuma atração. Os turistas que visitam Jequié neste período não contam com nenhuma atração e nenhuma orientação. A Diretoria Municipal de Turismo até agora não disse para que veio. Conseguimos que espontaneamente e sem nenhum apoio (nem uma água para os reiseiros), que os grupos das Pastorinhas e de Bom Jesus da Lapa se apresentassem ao lado do presépio, embora não houvesse um som com microfone sem fio para que os reiseiros pudessem usar para uma melhor apresentação. As pessoas mais distantes não puderam ouvir os que reiseiros cantavam.
Durante estes dias tenho levado para a Igreja Católica e para apresentação nas casas o Terno de Reis Menino Jesus (formado por crianças e adolescentes). Conheci este grupo tocando instrumentos feitos com latas. Adquiri instrumentos do ex-reiseiro Eidi e mandei confeccionar camisetas, ajudando assim a montar uma infra-estrutura básica para esse grupo de jovens reiseiros.
Quando fiz mestrado em Memória Social e Documento na Universidade do Rio de Janeiro (Unirio), o meu estudo de dissertação foi sobre os ternos de reis na região de Jequié. Há 10 anos quando terminei a dissertação, verifiquei que o reisado estava diminuindo por conta de que muitos reiseiros tinham morrido, outros deixaram a manifestação e não estava havendo uma participação ativa das novas gerações. A cultura popular só se perpetua quando as novas gerações dão continuidade às manifestações populares das antigas gerações por meio da tradição oral. Foi aí que idealizei o Projeto Revivendo o Reisado, que consiste em montar oficinas de ternos de reis para crianças e jovens aprenderem não só cantar as cantigas e tocar os instrumentos seculares dos grupos de reis, mas conhecerem a sua história e aprenderem também a confecção dos instrumentos como sempre fizeram os reiseiros. O projeto foi encaminhado pela Associação Cultural do Mandacaru, que tem à frente o mestre Josué da Silva Sampaio (Nonha) para o Edital de Territórios de Identidade da Secretaria Estadual de Cultura da Bahia. Depois de mais de dois anos de tantos entraves burocráticos parece que finalmente o programa será viabilizado este ano. O que me deixou alegre em meio à tristeza de não poder realizar o encontro regional de ternos de reis, que tanta gente aprecia e tantas pessoas ficaram indignadas por não ser o encontro concretizado.
É preciso que o poder público tenha atenção com a cultura popular. O Terno de Reis é a mais antiga expressão das manifestações de nossa cultura popular. O apoio a sua continuidade é respeito a nossa identidade cultural.
Dia 6 de janeiro, Dia de Santo Reis, espontaneamente, O Terno se Reis das Pastorinhas retornam a Praça Rui Barbosa com o boi mimoso, para se apresentar para população e para mostrar para o poder público que a cultura popular não pode não ser excluída das políticas públicas.
Domingos Ailton
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