Escritora e Professora, Márcia Auad fala sobre seu livro Anésia Cauaçu.
17/04/2014
JN: No ano passado a senhora lançou o livro Anésia Cauaçu – na cidade de Vitória da Conquista – e no dia 15 deste mês fez o lançamento em Jequié. Conte um pouco para nós do que se trata esta obra.
Marcia Auad: O livro que laçamos foi fruto de minha pesquisa de mestrado, que teve como objeto de estudo Anésia Cauaçu. O livro fala da história local num dos períodos mais conturbados da história, o banditismo. O período pesquisado foi o início do século XX, com seu ápice em 1915/16. A protagonista foi Anésia, sua família e o bando dos Cauaçus. Contamos com relatos orais e documentos da época para enredar e entender o contexto sócio-político da época.
JN: Tempos atrás o jornalista Domingos Ailton lançou um livro com o mesmo tema. A diferença está no gênero literário, um trazendo mais a ficção e o outro um contexto mais biográfico?
Marcia Auad: O trabalho de Domingos tomou como base a obra de Emerson Pinto e minha dissertação. E classifico o trabalho dele como uma obra de ficção e o que estou publicando é um trabalho de pesquisa.
JN: Levando em consideração a postura de Anésia naquele tempo, podemos dizer que ela estava a frente do seu tempo. Sem obviamente contar muito sobre o livro, como Anésia conseguia se impor num período de tanta discriminação contra a mulher?
Marcia Auad: Uma das peculiaridades dessa personagem é sem dúvida atuar diretamente no bando, em 1915, fato que antecede a participação de mulheres em bando, na Bahia. Conhecemos Maria Bonita como uma precursora na participação feminina em bandos e agora sabemos que existiu alguém que a antecede, a Anésia. E, mesmo atuando num bando, às vezes liderando, também foi mulher e mãe, como todas nós mulheres, que lutamos cotidianamente por espaço, direito e respeito.
Espero que ao lerem sobre Anésia entendam mais sobre nossa identidade.
Estaremos doando esse livro para bibliotecas na cidade, de modo a democratizar o acesso e o conhecimento à todos que se interessam pelo tema e a pesquisa.
JN: Recentemente uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) gerou muita polêmica quando divulgou erroneamente uma pesquisa com a população brasileira. Corrigindo, o instituto informou que 26% dos brasileiros achavam que “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” e não 65%, como divulgado anteriormente. A senhora acha que esses 26% ainda é um percentual alto para um país considerado democrático e evoluído em relação aos direitos pessoais?
Marcia Auad: Esses números nos mostraram o quanto as mulheres estão vulneráveis ao preconceito e a cultura machista. Mostrando-nos que mesmo sendo vítima de um abuso e violência as mulheres são as culpadas e não seus agressores. Essa mentalidade precisa ser discutida e reelaborada senão continuaremos atrasados culturalmente e sociologicamente. É preciso denunciar sem medo todo e qualquer ato de violência seja contra a mulher ou à criança. Não podemos nos calar. Denuncie.