Entenda operação que investiga deputado da Bahia por chefiar grupo miliciano

09/12/2023

deputado estadual Kleber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha, é investigado pela Polícia Federal como chefe de uma milícia responsável por lavagem de dinheiro em Feira de Santana, cidade a 100 km de Salvador.

Na quinta-feira (7), seis pessoas, entre elas o filho de 18 anos e a esposa do parlamentar, além de três policiais militares foram presos suspeitos de participação no grupo. Quatro pessoas estão foragidas.

A esposa de Binho Galinha, identificada como Mayana Cerqueira da Silva, de 43 anos, teve prisão convertida para domiciliar porque tem uma filha ainda criança.

Já o filho João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano, de 18, teve a preventiva mantida e foi encaminhado para o presídio em Salvador.

Binho Galinha ao lado do filho e da esposa — Foto: Redes Sociais

Binho Galinha ao lado do filho e da esposa — Foto: Redes Sociais

O parlamentar não foi preso por causa do direito ao foro privilegiado. Ele informou que está à disposição da Justiça e que os fatos serão esclarecidos. Além disso, afirmou que as atividades legislativas seguirão sem alterações nos próximos dias.

Investigações

  • As investigações apontaram que o grupo é suspeito por lavar dinheiro de jogo do bicho, agiotagem, receptação qualificada e desmanche de veículos.
  • Em um dos imóveis inspecionados pela Polícia Federal, foram encontradas milhares de peças de carros.

Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão e prisão, feitos na quinta-feira, diversos bens dos investigados foram bloqueados. Confira:

  • ???? bloqueio de R$ 200 milhões;
  • ???? bloqueio de 26 propriedades urbanas e rurais;
  • ???? 10 mandados de prisão expedidos;
  • ???? 35 mandados de busca e apreensão expedidos;
  • ???? suspensão das atividades econômicas de seis empresas.

 

Revenda de peças roubadas

  • Segundo a denúncia do MP-BA, a investigação apontou que Binho Galinha lavava dinheiro por meio de empresas e vendia peças de carro roubadas na loja sua loja de autopeças, Tend Tudo, em Feira de Santana.
  • A Polícia Federal analisou dados bancários e descobriu que a Tend Tudo recebeu R$ 40,7 milhões sem lastro suficiente de notas fiscais emitidas.
  • Os auditores avaliaram que há indícios de movimentação financeira incompatível com a receita bruta declarada pela loja de autopeças.
  • A Tend Tudo ainda recebeu créditos de outras duas pessoas que tinham registros criminais de receptação qualificada e organização criminosa.

Em 2020, a empresa emitiu nota fiscal no valor de R$ 3 milhões por causa da venda de mil cabines de caminhão, cada uma com valor de R$ 3 mil. Os auditores apontaram que não existia comprovação da entrada dos recursos na empresa e que não há vestígios de compra de cabines suficientes para revenda ou de material para a fabricação.

Elos na recepção das peças roubadas

Um dos elos na receptação de peças roubadas seria Kleber Herculano de Jesus, conhecido como "Compadre Charutinho". As investigações apontaram que o denunciado seria o responsável pela aquisição das peças vendidas para Tend Tudo, comandada por Binho Galinha e Mayana Cerqueira.

"Compadre Charuto", conforme a denúncia do MP-BA, tinha um "vasto histórico" de crimes contra o patrimônio e relação próxima com o deputado Binho Galinha.

 

A operação

Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em imóveis do deputado estadual — Foto: Ministério Público da Bahia

Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em imóveis do deputado estadual — Foto: Ministério Público da Bahia

Quinze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) e são investigadas. Dez mandados de prisão preventiva foram expedidos e seis prisões concluídas - entre elas, a da esposa e do filho de Binho Galinha. Quatro pessoas estão foragidas.

Além dos familiares do suspeito, três policiais militares, identificados como Jackson Macedo Araújo Júnior, Josenilson Souza da Conceição e Roque de Jesus Carvalho, que formavam o "braço armado" da milícia estão entre os presos. Eles estão na Coordenadoria de Custódia Provisória.

A produção da TV Bahia apurou a função que eles desempenhavam no grupo. Entenda:

  • ???? João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano: filho do deputado estadual. Ele era responsável por receber o dinheiro do crime desde quando ainda tinha menos de 18 anos. Ele repassou para o pai cerca de R$ 474 mil.
  • ???? Mayana Cerqueira da Silva: esposa do deputado estadual. As investigações apontaram movimentação financeira incompatível com os rendimentos declarados à Receita Federal e a maioria das transações feitas por ela envolvem os outros suspeitos.
  • ???? Jorge Vinícius de Souza Santana Piano: principal operador financeiro da organização criminosa e amigo de Binho Galinha. Conforme investigações, ele movimentou mais de R$ 39 milhões, o que não condiz com o que foi declarado à Receita Federal.
  • ???? Jackson Macedo Araújo Júnior: conforme investigações, ele movimentou quase R$ 4 milhões, o que não condiz com a condição econômica declarada à Receita Federal.
  • ???? Josenilson Souza da Conceição: bacharel em direito, o suspeito movimentou em suas contas pouco mais de R$ 1,7 milhão, o que não condiz com o que foi declarado à Receita Federal.
  • ???? Roque de Jesus Carvalho: movimentou mais de R$ 9 milhões entre janeiro de 2013 e março de 2023, o que não condiz com o que foi declarado à Receita Federal nestes 10 anos.

g1 tenta contato com os outros investigados que foram presos na operação.

 

Posicionamentos

Deputado Binho Galinha

"Tendo em vista as denúncias feitas pelo Ministério Público Estadual (MPE) e que a pedido da Justiça estão sendo apuradas, com ações no dia de hoje (07) pela Policia Federal, Receita Federal, e o próprio MPE em Feira de Santana e região, o deputado estadual Binho Galinha vem a público esclarecer que está a inteira disposição da Justiça da Bahia, e que tudo será esclarecido no momento próprio. Mantemos nossas atividades pessoais e legislativas sem alteração. Confio na Justiça e estou à disposição para dirimir dúvidas e contribuir quanto a transparência dos fatos. No mais dizer que nosso jurídico está tomando as devidas providências para junto a Justiça prestar os esclarecimentos."

Filho e esposa do deputado estadual

O advogado Rafael Esperidião emitiu a seguinte nota:

"A defesa que patrocina Mayana Cerqueira e João Guilherme Cerqueira , esclarece que a analisará tudo e o todo que foi anexado aos autos, assim que lhe for franqueada vista da íntegra da documentação. Ademais, é importante frisar que qualquer conclusão nesse momento será meramente especulativa e temerária. Ademais, os acusados se resguardam ao direito de se manifestar no momento processual adequado sobre o que for necessário à elucidação dos fatos e demonstração da verdade. Além disso, se colocam desde já a disposição da justiça, colaborando no que for necessário No mais, reservar-se ao direito de se manifestar apenas em momento oportuno nos autos do processo".

Polícia Militar

g1 pediu um posicionamento da Polícia Militar, já que três investigados são PMs que trabalhavam com a cobrança das dívidas por agiotagem e jogo do bicho, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

Assembleia Legislativa da Bahia

A Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) informou que não sabia da operação da Polícia Federal e que não haverá nenhum tipo de sanção ao parlamentar enquanto durarem as investigações. Confira íntegra abaixo:

"A Assembleia Legislativa da Bahia não foi informada, muito menos citada, a respeito da Operação realizada pela Polícia Federal na manhã desta quinta-feira (07/12). As investigações estritamente ocorrem no âmbito policial. Caso a ALBA seja notificada ou instada a se pronunciar, o fará de pronto. O Regimento Interno da Casa não prevê nenhum tipo de sanção a parlamentares durante o transcorrer de investigações".

G1