Despertando novamente o seu dom pela arte, o professor Reinaldo Pinheiro nos encanta com esta crônica. Clique e saiba mais.

25/07/2020

O Sol entrou hoje em minha casa sem pedir licença! Para deixá-lo mais à vontade, abri portas, janelas e disse pra ele: vamos conversar às claras, concorda, amigo? De pronto, ele respondeu: “claro! Afinal de contas, somos amigos íntimos desde que você nasceu, assim que a sua mãe deu à luz, no dia de Reis!” Sorri de contentamento diante do Astro e feliz pelo conhecimento que ele demonstrou ter de mim, sem eu saber! Não fosse a timidez, perguntaria: fala sério? Mas, enveredamos por outros assuntos. Falei-lhe da minha família, dos amigos, enfim, da importância que as pessoas têm pra mim! O Sol me ouviu atentamente e falou: “verdade! Nós sozinhos não somos nada! Aí de mim se não fossem as estrelas!” Depois, meio sem jeito, baixou o tom da voz e me segredou: “e se não fosse a lua, (ah! Lua!)que seria de mim, vagando nesse espaço infinito,  sem perspectiva de amar?” Achei ótimo estar sendo amigo confidente de tanta luz! Procurei alegrar o ambiente, perguntando pelos seus gostos: você gosta de música? Qual o tipo? Ele pensou um pouco, refletindo, e respondeu: “gosto muito de música! De preferência a música clássica tocada pelas ondas dos mares e dos ventos. Acredite: fecho os olhos pra ouvir profundamente!” Insisti na pergunta, e de música popular? O que acha? Foi rápido: “adoro o canto dos pássaros, sobretudo, quando estão voando e em liberdade!” Não podia perder a oportunidade, e a música dos homens? “Gosto também! Sou meio seletivo, sabe! Aprecio desde a música clássica à popular: jazz, samba, sertanejas...sendo boa, ouço tranquilamente.” Compenetrado, disse, temos afinidades no gosto musical! Ele fez um ar de riso e eu me senti iluminado! Encorajado, diante das circunstâncias tão propícias, perguntei: e de literatura? Poesia? Ele olhou pra o relógio, pegou em meu ombro e falou: “vai dar meio-dia! A Europa me aguarda, não gosto de atrasos, sou bom de horário!” Apertou minha mão e se despediu dizendo: “pra você não ficar sem resposta, costumo ler Fernando Pessoa e Drummond antes de dormir! A propósito, dei à Lua as obras completas de Cecília Meireles. Será que ela está gostando? Sei lá! Mulher, você sabe: mulher é fogo! Tenho medo de me queimar! Até meu Rei! O papo continua!” Até, amigo! O Sol se foi deixando um rastro de luz!