Como a polícia de Jequié (BA) se tornou a mais violenta do país

19/12/2024

A cidade de Jequié, no sudoeste da Bahia, é onde a polícia mata no Brasil, segundo a último edição do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, referente a 2023.

O município é um microcosmo da violência policial no estado, escreve a publicação.

O podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, traz nesta quinta-feira uma entrevista com o repórter Luís Adorno sobre a reportagem: "Como é viver em Jequié (BA), cidade onde a polícia mata mais do que o crime".

Segundo o repórter Luís Adorno, não há preocupação do governo petista sobre a violência de Estado.

"No ano passado, quando foi informado pela primeira vez que a polícia da Bahia era a mais violenta do Brasil o atual ministro da Casa Civil, Rui Costa, que foi governador, foi questionado por um repórter do UOL em Brasília. Os dados começaram na gestão dele. Ele deu as costas e falou 'não sou mais o governador da Bahia'", relembra o repórter.

Para Adorno, a violência policial pode ser usada como trunfo nas campanhas eleitorais.

"Falando internamente com pessoas ligadas ao governo da Bahia, pessoas que, inclusive, defendem os direitos humanos e um estado sem violência policial, elas falam: 'Olha, o próprio governador, em específico, não gosta disso'. Mas quando a gente olha os números, os elogios ao governo baiano após uma ação violenta da polícia crescem muito", diz Adorno.

A polícia afirma que a alta na letalidade policial se dá pelo enfrentamento da corporação com as facções criminosas. Em Jequié, 70% do território é dominado pelo Comando Vermelho, enquanto os outros 30% pelo PCC.

"Nos bairros periféricos de Jequié, uma coisa que a gente pode notar é que não há uma guerra de facções. As mortes que acontecem no local são internas: Comando Vermelho matando Comando Vermelho e integrante do PCC matando integrante do PCC. Então, essa justificativa não é palpável", afirma o repórter.

O cenário de Jequié é similar ao de outras cidades no Brasil. A região central, com estrutura, tem apoio da população local às ações da polícia. A periferia, com ausência de governo, teme as ações da polícia.

"As facções criminosas não estão só na Bahia e não estão só nesses estados onde há alta da letalidade policial. As facções criminosas estão no Brasil inteiro e nem por isso todas as forças policiais atuam de maneira tão violenta", afirma o repórter.

UOL