Cantor lança CD/DVD ao vivo com participação de Ivete Sangalo.
15/11/2010
A primeira coisa que vem à cabeça quando se pensa no ator, compositor e cantor Zéu Britto, 33 anos, é numa confusão retada. No bom sentido, claro. Mesmo com 15 anos de sua vida dedicados à arte, esse baiano forjado no calor de Jequié, a 365 km de Salvador e terra natal também do poeta Waly Salomão (1943-2003), continua saudavelmente inclassificável.
A marca registrada de José Carlos Britto, porém, permanece firme e forte: a irreverência. “Tudo meu é muito bem-humorado, desde criança. Eu acho que tem a ver com a minha essência como artista. Quando eu faço humor, dá certo, não tem jeito”, explica.
Apesar de já ter a “idade de Cristo” – e também a barba e os longos cabelos cacheados –, praticamente todas as canções do CD/DVD Saliva-me Ao Vivo (Canal Brasil/MZA) foram feitas quando Zéu era ainda um garotão. Entre os 14 e 15 anos, quando, provavelmente, nem imaginava que seria cantor, compositor, ator e apresentador de TV, ele desembarcou em Salvador, para estudar, e começou a criar o que seriam seus futuros hits.
Rio
A primeira performance pública de Zéu foi em 1995, aos 18 anos - tinha acabado de concluir o Curso Livre de Teatro da Ufba e atuou e fez a trilha do espetáculo Intimidades. Um ano mais tarde, o rapaz magrelo e irreverente do interior, que estudou teatro escondido da família, já integrava a trupe de humor Los Catedrásticos, onde ficou até 2002.
Logo, o diretor pernambucano João Falcão convidou Zéu para encenar o espetáculo infanto-juvenil A Ver Estrelas, no Rio. Ele fez as malas e se mandou. Na capital carioca, Zéu Britto foi parar na TV. Em 2003, participou do programa Sexo Frágil, que considera um divisor de águas na sua carreira. Ele atuou e fez a trilha sonora do seriado global, no qual contracenava com os amigos baianos Wagner Moura, Lázaro Ramos e Vladimir Brichta, também recém-chegados ao Rio.
Os baianos faziam papéis masculinos e ainda arrancavam suspiros (de tanto rir) como “belas” moças, já que todos os personagens femininos eram também feitos por eles, além do carioca Lúcio Mauro Filho e do pernambucano Bruno Garcia.
Sucesso
De 2003 até hoje, Zéu se multiplicou artisticamente. Participou de vários seriados da Globo, como A Diarista e Sob Nova Direção, fez matérias para o Fantástico, cobertura do Carnaval de Salvador, seis filmes e ainda um punhado de peças e trilhas sonoras.
Para dar conta de tanto projeto, abriu sua produtora cultural, a Urubu Rei, junto com o amigo e sócio Gilson Mato Grosso: “Hoje, ele pega a parte da organização e eu tenho tempo para ser artista”, conta.
Gilson também dirige seu mais novo programa, no Canal Brasil, chamado Zéu de Estrelas. Nele, Zéu Britto ataca de apresentador e entrevista personalidades que falam do lado engraçado de suas vidas.
Quando perguntado sobre o que mais gosta de fazer, ele titubeia, mas dispara: “O melhor é cantar, fazer show. Show é completo. No DVD, mesmo, tem tudo junto. Eu troco de roupa, saio de buraco, tem participação de Ivete, Maurício Baia!”.
Brega
Zéu Britto é essa confusão ambulante - e com muito orgulho, pois não: “Acho que minha fórmula é misturar o cantor com o ator, as pessoas ficam confusas, isso é bom demais!”. Mas a mistura não para por aí.
Alguém que soubesse apenas as influências de Zéu não adivinharia que tipo de música ele faz - como, por exemplo, a balada brega roqueira Soraya Queimada, da trilha do filme Meu Tio Matou um Cara (2004), de Jorge Furtado, seu maior hit. Ou melhor, por quais caminhos estrambólicos passeiam suas letras.
Apesar de concordar com o repórter que faz parte do mesmo e singular time de nomes como o do carioca Rogério Skylab ou do compositor americano Frank Zappa (1940-1993), as influências de Zéu vão além. A maior parte, diga-se de passagem, tem gosto de dendê.
Zéu gosta de vozes “estranhas”, como as da cantora argentina Mercedes Sosa (1935-2009) e da baiana Virgínia Rodrigues. Cita Tom Zé, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Lenine, Luiz Melodia... Mas, Caetano, João Gilberto e Maria Bethânia são os primeiros a serem lembrados: “A Maria Bethânia eu comprei todos os DVDs, sou fã alucinado”.
Bethânia
“Se não fosse Ivete, eu ia chamar Bethânia para cantar comigo Brega de Leila, mas imagine Bethânia cantando aquelas coisas! Ela não ia aceitar! É mais a cara de Ivete. Ela arrasou!”. Para ele, Ivete Sangalo é a Maria Bethânia de hoje e decreta: “Essas coisas fortíssimas ficam todas na Bahia!”. Aliás, Zéu pode sair da Bahia, mas a Bahia não sai de Zéu Britto. Mesmo no Rio há seis anos, o compositor segue baiano “até o talo”, escrevendo sobre amores bandidos, perversões sexuais e mulheres misteriosas.
“Morei em Salvador por muito tempo, eu tenho uma história com a Bahia, que é profunda. Então, sinto vontade de contar essas histórias que eu vi e vivi”, diz. Uma de suas músicas conta a saga de Maria, que vai com as ondas e “se jogou no mar/ Subiu num barco alheio/ E foi parar em Itaparica”. Em outra, sua primeira composição, feita em homenagem à sua musa, a atriz Cláudia Ohana, diz: “Só quero raspadinha, meu bem/ Se você quiser, eu raspo também”.
Travesti
No momento, Zéu está focado na divulgação de Saliva-me, além do lançamento dos filmes baianos Capitães da Areia, de Cecília Amado, e Trampolim do Forte, de João Rodrigo Mattos. Nesse último, em seu primeiro papel sério, vive um travesti. Mas ele já tem outra carta musical na manga. “O próximo disco vai se chamar Galante. As novas músicas estão realmente bonitas. Mas tudo pra rir. A esculhambação toma conta, não tem jeito”. Não há quem duvide.
Fonte:
Correio 24 horas
Álvaro Andrade | Redação CORREIO
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