Aluno da rede estadual de ensino, César Augusto Braga fala sobre texto premiado em concurso.

01/09/2016

César Augusto Braga, nascido em São Paulo/SP e radicado em Jequié, foi um dos premiados entre 17 estudantes da rede de ensino estadual no “Concurso Festa Literária na Rede Estadual da Bahia: 169 anos de Castro Alves”, realizado pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia. O concurso teve 121 obras inscritas nos distintos gêneros literários (poesia, prosa, carta e cordel), tendo como objetivo promover ações voltadas para o desenvolvimento das experiências criativas nos contextos escolares e a preservação da memória cultural da Bahia. Neste caso especial, os estudantes foram motivados a produzir escritos literários baseados nas diversas temáticas da obra do escritor Castro Alves. César, 15 anos, estudante do CPM - Colégio da Polícia Militar, vive em Jequié e cursa o ensino médio, fala francês e alemão razoavelmente e inglês com conversação imediata, se interessa por literatura clássica e contemporânea, ama escrever textos e estudar profundamente história, sociologia e filosofia. JN: Como você recebeu a notícia que seu texto foi premiado no concurso? César: Recebi a notícia através da minha mãe, ela ficou sabendo pela tarde e contou-me apenas de noite, alegrei-me bastante por poder argumentar através de uma temática que permite dialogar acerca de diversos assuntos de nossa realidade. Pois como disse Castro Alves: "Para chorar de dores pequenas, Deus criou a afeição, para chorar a humanidade, a poesia". JN: “A voz de Poucos que Brada”: fale um pouco sobre o texto. César: Ele se constitui como uma carta argumentativa com traços poéticos, para escrevê-lo eu pensei em direcionar a carta ao poeta Castro Alves, seguindo a sua maneira de “poetizar’’. Ele mostrava por meio de seus poemas as marcas da escravidão na realidade do século XIX, pensei em mostrar através dessa tipologia a realidade do século XXI bem como as marcas do egoísmo que culminam esse século. JN: Qual a profissão que você pretende seguir? Já pensou em algo ligado à educação? César: Penso em seguir uma carreira voltada para a educação, dentre os motivos que me induziram a esta decisão está o interesse em lecionar; eu vejo as salas de aula como um lugar onde a mediação de conhecimentos pode ser uma tarefa prazerosa, e quando se leciona se lapida o futuro alheio e o seu ser, pois o conhecimento é uma ferramenta nobre que engradece o menor dos homens. O interesse surgiu pelas salas de aula após ler Vygotsky. JN: Hoje em dia é cada vez mais escasso o interesse de jovens por literatura. Conte um pouco sobre essa sua postura, contrária aos tempos atuais. César: Eu sempre me interessei pela leitura, tal interesse se deve aos atos da minha mãe que sempre nos estimulou a leitura, desde da compra de livros até o campeonato de leituras em casa. Lembro-me que minha mãe chegou a comprar Navio Negreiro para mim aos sete anos, mas posteriormente eu passei a ler literatura clássica como as versões condensadas de A Odisseia, A ilíada de Homero e Eneida de Virgílio, vindo a ler as versões integrais aos doze anos. Outro ponto que mantem o meu interesse sólido pela leitura é praticá-la em novos gêneros, atualmente conclui a leitura de Regras, dos métodos sociológicos de Emile Durkheim, um gênero que antes não me interessava muito. Confira abaixo o texto premiado de Cesar: A VOZ DE POUCOS QUE BRADA Ao exímio espírito poético do cantor dos escravos clamo, como clamaram outros antes de mim, para que nos liberte mais uma vez. Antes a voz de muitos rogava, silenciosamente, agora, a voz de poucos brada. O tempo é apenas uma marca pelos segundos, minutos, horas, anos e séculos que passaram e que passam, e ainda somos os oprimidos. No passado, oprimidos pelas correntes da escravidão, no presente, por correntes do egoísmo que prendem as correntes do coração, fecham nossos olhos, e por isso não nos damos conta de que somos escravos das correntes dos nossos interesses. O agora, com poucos que bradam, pede ao espírito libertador do cantor dos escravos que resida no coração dos cegos pela escravidão das correntes egoístas, pois externou os sentimentos dos escravos e externara os nossos sentimentos, nossa cegueira. Por uma porta a escrita. Como disse o cantor dos escravos "Para chorar de dores pequenas, Deus criou a afeição, para chorar a humanidade, a poesia", porém o nosso choro é ainda maior. Portanto, mais uma vez rogo ao espírito do cantor dos escravos que resida no coração dos cegos pelas correntes do egoísmo. Colégio da Policia Militar Professor Magalhães Neto- CPM Unidade de Jequié-BA Estudante: César Augusto Braga de Oliveira-1º B Professora orientadora: Jucieny Maria Macedo