A escalada da violência em Jequié. Por Lucas Ribeiro Novaes.

11/05/2015

Quantos assassinatos foram registrados em Jequié nos últimos trinta dias? Quantos assaltos, latrocínios, extorsões e outras ações do gênero já foram contabilizados? Quantas mães perderam seus filhos? Quantos filhos perderam seus pais? A elevação do índice da violência em Jequié preocupa-nos, sobretudo, pelo grau de desenvolvimento alcançado tanto em termos de frequência quanto de intensidade. Peço desculpas ao caro leitor, por não ter apresentado respostas para as perguntas que abrem o presente artigo. Resolvi desprezar a precisão dos dados estatísticos por julgar que a frieza dos números não pode mensurar a sensação de medo que tomou conta da cidade, muito menos da angústia, diariamente alimentada pelas imagens de corpos humanos varados à bala e que são, “gentilmente”, compartilhadas nas redes sociais. Nas escolas, crianças e adolescentes comentam com riqueza de detalhes o último homicídio do final de semana. No trabalho, só para quebrar a rotina, o colega informa: “mataram dois nesse último sábado, tá sabendo”? Parece não haver outro assunto! A população jequieense, cada vez mais, vem sofrendo com a violência urbana. O constante descaso do poder público, a ineficiência do setor prisional e as desigualdades sociais só vêm agravar este quadro. O descumprimento de políticas essenciais para a sociedade de baixa renda possibilita o crescimento do poder do crime organizado nas nossas periferias. O estado precário de nossas escolas, o total abandono dos equipamentos culturais e das quadras poliesportivas,o profundo descompromisso e a incapacidade administrativa de nossos gestores, corroboram para afirmação do caos em que vivemos. Será que é difícil perceber que a desigualdade social é um fator gerador das ações violentas? Sabemos que a doutrina do consumismo exacerbado, ideologicamente disseminados nos meios de comunicação, impulsiona uma parcela da população a desejar bens de consumo que não podem possuir, em virtude de suas condições financeiras. Aceitar o pensamento de que a violência possa ser naturalizada é uma tentativa de diluir o terror e o medo que ela provoca, de se subordinar aos seus efeitos, e de não se implicar com as possibilidades, mesmo pequenas, de sua transformação. Infelizmente, a convivência com as ações violentas faz com que o indivíduo venha a acostumar-se com o ambiente agressivo que o cerca. É a naturalização da violência. A todo instante o cidadão presencia atos violentos oriundos dos mais diversos setores sociais, considerando-os normais. O grande sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirma que o medo é mais assustador quando é difuso, disperso, indistinto, desvinculado, desancorado, flutuante, sem endereço nem motivo claros; quando nos assombra sem que haja uma explicação visível, quando a ameaça que devemos temer pode ser vislumbrada em toda parte, mas em lugar algum se pode vê-la. Esse medo “difuso”, de qual nos fala o sociólogo, parece caracterizar muito bem o estado de espírito atual do cidadão jequieense. Tendo em vista que as oportunidades de ter medo estão entre as poucas coisas que não se encontram em falta na nossa terra, altamente carente em matéria de certeza, segurança e proteção. Os perigos que tememos, transcende nossa capacidade de agir. Nos impedindo, inclusive, de ter esperança. Lucas Ribeiro Novaes Psicólogo e Professor / Especialista em Educação Inclusiva