A charada do século: poluir menos para produzir mais. Por Dom Cristiano Krapf.

02/01/2010

Como combater a emissão de gases poluentes no ar sem comprometer o crescimento. Como atender a crescente demanda por alimentos, energia e água, sem acelerar ainda mais o esgotamento de recursos naturais e aumentar o efeito estufa que faz subir o aquecimento global e as águas do mar? O mundo está de olho na Conferência de Copenhague, onde os líderes das nações estão tentando encontrar soluções para enfrentar o problema do aquecimento global com suas consequências desastrosas. Nosso século vai enfrentar escassez crescente de recursos naturais. Os mais atingidos serão os pobres do semiárido ameaçado por desertificação. Diante da necessidade de medidas abrangentes, muitos fazem apenas apelos genéricos. Outros recomendam remendos, apontam ações pontuais. Nenhum governo quer comprometer-se com promessas que possam prejudicar o crescimento do país. O Brasil quer aproveitar a descoberta do pré-sal para dobrar a produção de petróleo. Ora, dobrar a produção de petróleo significa dobrar a emissão de dióxido de carbono com a queima dos seus derivados. A corrida pelo pré-sal está apenas começando. Não é só o Brasil que tem. O aumento da produção mundial, ou a redução do seu consumo em novas crises mundiais, pode reduzir o preço do petróleo e dificultar a substituição progressiva por biocombustíveis, onde o Brasil tem posição privilegiada pela natureza. Por outro lado, essa substituição faz crescer a competição por água e terra. Mais um dilema: Produzir alimentos ou gerar energia? Os biocombustíveis também produzem CO2 na sua queima, mas antes o sequestram para fazer as plantas crescer. Um caso especial é o carvão vegetal. Quando vem do desmatamento, não só contribui para o aquecimento global, mas produz estragos no ambiente. O pior de tudo é a queima de florestas que nem aproveita o valor da madeira. O petróleo e o carvão mineral retiraram do ar o seu carbono em tempos pré-históricos e liberaram oxigênio para o reino animal. Seu uso atual é um grande fator de poluição. Melhor seria preservá-los para usar na petroquímica. No Brasil temos os dois extremos. Com a queima de florestas somos o pior emissor de gases poluentes. Aprendendo a preservar a floresta amazônica podemos ser o maior sequestrador de CO2. Está na hora de passar a dar uma contribuição ainda maior para retirar da atmosfera quantidades enormes de gás carbono e diminuir o efeito estufa: Plantar florestas em áreas degradadas e regiões de clima seco. Combinar duas coisas que pareciam incompatíveis: Diminuir a poluição e aumentar a produção. Se isso é viável, qual é a razão que impede de fazê-lo? O problema era a falta de um método de irrigação para plantar florestas sem precisar de milhões de litros de água por mês para irrigar um só hectare. Por isso desenvolvi uma ferramenta que facilita o plantio de florestas no semi-árido e torna possível a recuperação de áreas de deserto. Com irrigações emergenciais, gastando apenas meio milhão de litros de água por ano, cuidamos de uma plantação de 4000 mudas de Neem, enfrentando dois anos muito secos. É coisa simples: colocar água de chuva e de irrigação no lugar adequado para plantas de raízes profundas. Para começar, proponho plantar cem milhões de hectares de florestas no sertão e no cerrado, para substituir os desmatamentos e evitar a desertificação, criar milhões de empregos e apoiar a agricultura familiar, fornecer o carvão para padarias, olarias, usinas termoelétricas e siderúrgicas. Mais tarde, tais florestas poderão abastecer o mundo de papel e de madeira, preservando as matas nativas e reservando as regiões de clima melhor para produzir alimentos. Para quem achar que isso é fantasia de um sonho utópico, posso informar que já tenho um pequeno campo de demonstração em Manoel Vitorino, com 15 hectares de árvore Neem de dois anos em pleno vigor, numa região onde pouco se planta e menos se colhe. Desde 2007 não corre água nem na temporada de chuva. Faz anos que nada se produz na redondeza. Nos meses de seca, o gado precisa fugir para lugares melhores. É hora de divulgar o projeto, que é importante demais para depender apenas dos meus recursos limitados. Mais informações no meu Blog: www.domcristiano.com.br, com link para um filminho no youtube para quem quer ver para crer. Para um futuro mais distante, nenhuma solução técnica poderá dispensar a necessidade de mudanças radicais na mentalidade e nas atitudes das pessoas. Diante dos limites dos recursos naturais, os que têm menos só poderão ter mais, se os que têm mais se contentarem com menos. A necessidade de um padrão de vida modesto para todos, ainda neste século, é questão de simples matemática. A não ser que o fim do mundo chegue antes. Um exemplo: A terra não vai suportar dois carros por família e viagens intercontinentais de bilhões de pessoas por ano. Se continuar a mentalidade egoísta que diz, Farinha pouca, meu pirão primeiro, os fortes vão recorrer a novas guerras para defender seus privilégios. Não podemos continuar a gastar por conta das gerações futuras. Precisamos preservar uma terra habitável para netos e bisnetos. A meta de plantar um milhão de km² pode parecer ambiciosa demais. Proponho tal meta para o mundo inteiro na próxima década. A meta inicial para o Brasil pode ser de um milhão de hectares por ano, dez mil km² de florestas novas, algo parecido com a proposta de diminuir em dez mil km² por ano a queima de florestas nativas. Quanto aos investimentos necessários, será um dinheiro muito bem aplicado. Além disso, será mais fácil conseguir os recursos para reflorestar, em vez de pedir créditos de carbono só para não desmatar. Depois, nunca mais depredar as florestas. Retirar madeira e carvão, sim, mas sempre replantar. Tal projeto torna possível a criação de milhões de empregos em áreas carentes, especialmente em agricultura familiar. Criar oportunidade de empregos na plantação de florestas custa muito menos que criar empregos em outros setores. O investimento vai produzir retorno e lucro na segunda metade da década de implantação. Encher de florestas as áreas mais secas do mundo sem desperdício de água é a solução da charada de Copenhagen. È a saída para o dilema do século: Aumentar a produção de alimentos e energia sem esgotar os recursos hídricos e sem inibir o desenvolvimento. Poluir menos e produzir mais, no Brasil e no mundo. Especialmente nas regiões de chuvas escassas.